Artigo de opinião de Gil Nunes.
Em primeiro lugar, o fator emocional: o Braga, que com todo o mérito já faz parte do pelotão dos grandes, não pode ficar uma temporada semidespido de competições europeias, pelo que a qualificação para a fase de grupos da Liga Europa é quase uma obrigação. Qualquer outro cenário será uma deceção tremenda. E os jogadores já perceberam isso. É o nervoso miudinho a escrever a narrativa.
E o Servette? Sim, plenamente ao alcance. Se bem que o empate tenha sido justo pela estratégia adotada pelos helvéticos - muitos hábeis no processo defensivo e ladinos na exploração das debilidades de transição defensiva apresentadas pelos bracarenses – a lei do mais forte tende para o lado dos minhotos. Como se viu nos últimos 15 minutos. E aí solidifica o substrato da análise.
Porque uma equipa como o Braga não pode ter o seu rendimento analisado apenas num fogacho de quinze minutos que se diluem num bolo de 75 em que nem foi nem carne nem peixe. Apenas um assim-assim. Que não chega. Seja como for, e apesar de estarmos num início de temporada em que a especulação e as interrogações imperam, há análises que podem ser feitas: desde logo na frente de ataque – a exibição de Roberto Fernandez foi seca e insuficiente, com notório desligamento dos restantes setores; e sim, o Braga melhorou e muito com a entrada de El Ouazzani mas fica a sensação de que Abel Ruiz e Banza eram soluções mais credíveis. Ou então aquela neblina de que Roger, apesar de ser uma excelente solução de futuro, ainda não deverá aportar os mesmos atributos que Álvaro Djaló trazia à dinâmica ofensiva. E o mesmo se aplica a Gabi Martinez.
O insípido jogo diante do Servette transporta consigo o boião das prioridades. Da mais premente à mais supérflua. E a primeira parte contempla a resposta correta: a transição defensiva dos bracarenses. É certo que a dupla Moutinho-Zalazar é interessante e sólida mas nenhum dos jogadores (pelo menos Zalazar para já) possui competências inatas em termos de recuperação rápida de posicionamento, choque e, claro está, restabelecimento dos padrões de equilíbrio quando a equipa entra no processo sem bola.
Qual o antídoto? A dita intensidade. Ou, traduzindo, uma fluidez de jogo de tal forma eficiente e rápida que coloque o adversário mais encostado às suas cordas e com uma muito menor probabilidade de causar mossa quando recupera a bola às custas desse latifúndio que tem de ser percorrido.
Se há soluções? É a incógnita. Será que o clube da cidade dos arcebispos possui cartola (banco) de onde podem ser sacados coelhos que resolvam a situação? Ou será que os coelhos, tendo em conta que o mercado não fechou e o Braga possui muitas indefinições (entradas e saídas) ainda estão para vir? Por aí, flecha da razão dirigida a Daniel Sousa: apesar da Liga Europa ser sempre um arame farpado, nada como utilizar as eliminatórias para se realizar o teste decisivo em contexto de jogo (Gorby em Sófia e Fernandez agora) e para se aquilatarem de forma minuciosa todos os limites. E sem esquecer nomes como Vítor Carvalho ou João Marques. Sobre este último, a sua capacidade de entendimento do espaço e de penetração no derradeiro terço pode ser fundamental em dois domínios: alívio do peso da responsabilidade em cima dos ombros de Ricardo Horta; e possibilidade de deslocação do mesmo Horta para outras zonas do miolo, possibilitando o tal refrescamento de que a equipa já carece e, no futuro, por certo vai carecer ainda mais.
No rol das debilidades, há ainda espaço para mais uma ponta do novelo. Os corredores laterais. Se Vítor Gomez é fiável no processo ofensivo mas mais débil quando chamado a defender (falhas individuais do final da temporada passada ainda estão no baú), do outro lado a constatação é inversa: sim, Borja era periclitante a defender mas no processo ofensivo era um verdadeiro dínamo/médio. E o mesmo não se aplica a Adrián Marín: que tem bons pormenores técnicos quando está apertado mas não apresenta a mesma fluidez na exponenciação constante do corredor, situação que é fundamental num contexto de equipa grande que o Braga nunca se pode esquecer que tem.
As boas notícias advêm da zona central: Arrey-Mbi está a conquistar o seu espaço e a assumir-se como eixo de referência, com bons predicados também no início do processo de construção. Com benefícios indiretos na criação de uma maior plataforma de tranquilidade a Niakaté que, deste modo, se mostra menos propenso ao erro individual que o manchou na temporada passada e que, ao que parece, é o calcanhar de Aquiles (ou não) de um central esquerdino, rápido, e dotado de indiscutível tremenda qualidade.
Nunca é saudável fazerem-se opções, mas o Braga não tem outro remédio: início da liga condicionado em face da imperiosa necessidade de qualificação para a fase de grupos da Liga Europa. É real que o cenário está longe de ser catastrófico e há condições para se vencerem ambos os jogos. Mas é também pertinente unir o novelo e analisá-lo como um corpo uno: parece um Braga menos forte que no passado e com menos soluções. Ou as mesmas ainda estão em fase embrionária e não brotaram devidamente à superfície. A tal questão da cartola do arcebispo: que, vazia ou recheada, trará a tão aguardada resposta.