
Artigo de opinião de Gil Nunes.
A base até pode ser a mesma e, concretamente, nada existe contra a realização de uma roda no final do jogo. Mas entra em campo a dita nuance. A reflexão. Ora, se uma roda pressupõe uma circunferência e se uma circunferência pressupõe fechamento, então estamos a vedar o espaço a um conjunto de heróis invisíveis que corporizam o êxito de uma organização. A verdadeira etimologia da palavra nuance.
Os seguranças, os cozinheiros, o pessoal da manutenção ou os team managers. Entre outros que, naturalmente e por todas as compreensíveis razões, não podem entrar na roda no final dos jogos. Entra em campo a nuance. A dita nuance. Faz-se a mesma coisa de forma diferente. De forma metafórica. A roda passa a ser invisível e a constar de forma permanente no laboratório de Olival. Onde o coração da equipa palpita e o trabalho diário se consubstancia.
Sem esquecer o público e os adeptos. Sem os quais a roda não faz qualquer sentido. Ou seja, a abolição da roda no final dos jogos apresenta claros objetivos a montante. Três, sobretudo: em primeiro lugar a cimentação do espírito da união do clube, que esteve trémulo na temporada passada em virtude das contingências eleitorais; depois, a constatação de que a palavra “todos”, também no seu sentido etimológico, engloba todos e mesmo todos; e, por último, a mensagem peculiar: de que Vítor Bruno até que desempenhou o papel de fiel escudeiro, mas não concordava com tudo. Agora, com as mãos no leme, tem capacidade de liderança para cambiar a direção e ajustar o modus operandi a seu bel-prazer. Com as devidas nuances.
Isto numa altura em que a constatação é só uma: a situação financeira dos dragões continua periclitante, pelo que o contexto de que alguma mais-valia terá de sair é, mais do que uma realidade, uma necessidade imperiosa e quase de sobrevivência. É claro que tudo é especulativo, mas fica-se com a sensação de que a saída de Francisco Conceição está mais ou menos dentro dos planos. Se bem que o dossiê “Conceição” não o englobe e nem sequer – longe disso – se coloque em causa o inequívoco valor do atleta, certo é que é sempre uma situação desconfortável e com a qual não é fácil ter de se conviver diariamente: o pai e aquele com quem o pai está em litígio, algo que mói mesmo sem se sentir. Sem se ver ou saber. E, acrescente-se, também dá aquela sensação de que Gonçalo Borges não quis sair porque sabe que terá uma oportunidade de ouro caso a previsível saída de Francisco Conceição se concretize.
No plano desportivo, as prioridades são duas: em primeiro lugar um central (mais do que urgente) que se imponha como titular e acrescente a tónica de qualidade que os dragões carecem naquele sector, sendo que há situações que o rigoroso trabalho não consegue potenciar na sua plenitude; depois, um lateral-esquerdo que tanto seja indiscutível como uma boa solução de recurso, para que aquele corredor se consiga equilibrar com o atual quadro competitivo que existe no corredor oposto – o corredor direito.
Do prioritário ao supérfluo passando pelo apeadeiro do retoque. Dava muito jeito ter alguém no miolo que pudesse complementar Alan Varela e que, à semelhança da temporada passada, desempenhasse o papel de Nico González, que agora pontifica na posição dez e que, em face do rendimento apresentado, dali não sairá. É certo que, nestas contas, entra em cena o dossiê Grujic: o jogador sérvio é um dos mais bem pagos do plantel – 2,1 milhões por ano – situação que é incomportável para um FC Porto que está num processo de ginástica acrobática para equilibrar as suas contas e se tornar sustentável. Acresce ainda outro facto: Grujic não se pode queixar de falta de oportunidades e, a esta altura, teria de ser um titular indiscutível que não o é. Nem por sombras. Ainda para mais quando, na Supertaça, somou uma série de erros individuais que desaguaram na instabilidade inicial dos dragões e resultaram numa inesperada e quase inultrapassável vantagem leonina. Sim, é certo que nenhum jogador deve ser julgado por um só jogo mas, no caso do sérvio, trata-se de uma recorrente situação de falta de capacidade de resposta efetiva em situações privilegiadas. Analise-se, por exemplo, o facto de na temporada passada também ter sido titular nos primeiros jogos sem resultados consequentes no resto do percurso. Para isso, seja-se sincero, mais vale apostar-se em alguém da formação – bem mais barato e com garantias de um desenvolvimento futuro mais harmonioso. A dúvida fica bem mais barata.
Se a entrada de Danilo faria sentido? Sim, até pelo necessário sentido de se assegurar um jogador com mística e que, nesse prisma, possa equilibrar o vazio de romantismo que ficou carente após a “reforma” de Pepe. Para os da casa, com as devidas ressalvas, há sempre lugar. Depois, trata-se de um jogador que, nos últimos anos, se aprimorou na posição de central, situação que poderia ser de extrema utilidade para o sector mais esburacado do plantel.
O “ouro da casa” é bom mas tem um teto; a capacidade de trabalho e potenciação dos quadros também. Mas a equipa, sobretudo do meio-campo para a frente, tem eixos de competitividade que, em termos de liga e de competições internas, podem ser mais do que suficientes para se alcançarem os objetivos. Resta ter de se conviver com um fantasma que, não sendo assombrador, também não é positivo: alguém vai ter de sair. Mesmo. Caso contrário o edifício tende a ruir e o caos tende a reinar. Depois de 31 de agosto tudo se decidirá de forma mais clara. Menos baça. Mais concreta e definida. Com as nuances preparadas para fazer a diferença.