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FC Porto: O dry Martini de Boas. Villas-Boas

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: O dry Martini de Boas. Villas-Boas
Reprodução / Futebol Clube do Porto

Tal como a célebre bebida de James Bond, a passada semana dos dragões teve um slogan: batido mas não mexido. Ou seja, depois de um período mortiço em que não se atava nem se desatava, os últimos sete ou oito dias trouxeram uma cartilha de novidades e a certeza de que as vendas realizadas (sobretudo Evanilson e David Carmo) conferiram o necessário toque para a alavanca dos sonhos. Das novas contratações.

E a única crítica que pode ser levantada (ou não) a Villas-Boas pode residir no facto de ter mexido (leia-se batido) num setor – linha avançada – que não era, de todo, prioritário. Numa análise fria da equipa dos dragões, não é muito difícil de se concluir que a ferida está saliente na zona central da defesa e que a coisa, malgrado todo o aprumo e mensagem do mundo, não vai lá só com trabalho. Reforços precisam-se. E já.

A explicação parece simples e extravasa o próprio futebol: para os excecionalmente bons há sempre lugar. Na realidade, pode já não haver negócios da China, mas a contratação de Samu ao Atlético de Madrid anda lá perto: possante, dotado de capacidade de pressão alta permanente, com técnica e extremamente rápido, até se chega a estranhar que um avançado desta qualidade e craveira pretenda continuar a sua carreira em Portugal. À lupa, tem qualidade de Liga dos Campeões e transporta o benefício indireto a uma venda de Evanilson que, enveredando pela lógica da troça “peça por peça”, passa a ser também um negócio chinês de alto gabarito. Trocar um Porsche por um Ferrari entra no luzidio mundo do mercado de luxo. Tal como a incógnita Deniz Gul, este mais pensado em termos futuros e traçado para um laboratório de Olival onde a “next big thing” continua a ser Rodrigo Mora.

Na calada, nas catacumbas, a situação de Francisco Conceição tinha de ser resolvida para se finalizar uma espécie de combate invisível de esgrima entre razão e emoção. Se o litígio dos “VB’S” com Sérgio Conceição não apanha Francisco no apeadeiro, também ninguém pode ficar numa situação confortável quando o imbróglio atinge um familiar direto. O empréstimo à Juventus entra na tal cartilha da nuances: sem opção de compra, para que os ditos 20% de transferência só sejam acionados caso se bata a cláusula de rescisão: ou seja, em bom português falando, jogada inteligente de Villas-Boas e batata da fortuna do lado de Francisco Conceição: se queres ganhar uma pipa de massa então faz pela vida e dá tudo pela Juventus. Ficamos todos a ganhar.

E a leitura de que Fábio Vieira chega para substituir Francisco é positiva no sentido do aporte da mística, mas logicamente turva na senda que são jogadores de características completamente diferentes. Nova nuance: muito embora todo o contexto, Francisco tem um perfil diferenciado e vai fazer uma falta tremenda no desequilíbrio individual direto que toda a equipa grande (e que enfrenta blocos baixos com frequência) necessita. Seja como for, a chegada de Fábio Vieira traz consigo um retoque na maquilhagem ofensiva: capacidade de jogo entrelinhas (sobretudo) e aquele atributo de finalizar ou definir que é típico de um elemento dotado de tremenda margem de pressão. Sim, porque a premissa é mesmo essa: Fábio Vieira está longe de ser um produto acabado como jogador. Um diamante para Vítor Bruno.

Do lado esquerdo da defesa, a constatação evidente que Zaidu é um jogador interessante mas é preciso algo mais em termos técnicos para se jogar no FC Porto. E a contratação de Francisco Moura afina, sobretudo, pelo diapasão da margem de progressão conjugada com um Wendell (pelo menos para já) que apresenta um perfil de médio repleto de toque de bola disfarçado de defesa – veja-se a veia goleadora que apresentou na temporada transata, realçando-se de forma justa o notável papel que Sérgio Conceição teve na sua ligeira metamorfose, consolidação e valorização. Falta é, naturalmente, o preenchimento do calcanhar de Aquiles que dá pelo nome de corredor central, sendo que por ai não há volta a dar. Chegar e impor-se sem qualquer margem de erro, sob pena da ferida pontificar sempre ao longo de toda uma temporada desgastante e que vai desaguar no Mundial de Clubes.

E a entrevista de Pinto da Costa revelou algo de suplementar: se tivesse vencido, haveria novas eleições dentro de um ano. Mais do que saber se o Presidente “A” ou “B” é competente no desempenho do cargo, está mais do que visto que o FC Porto iria regressar a um período de turbulência que em nada beneficiaria o clube, sobretudo porque este filme voltaria a ter como protagonista o mais marcante e lendário Presidente que o FC Porto algum dia já teve.

Porque substituir um líder histórico e carismático é sempre diferente do que substituir outro qualquer, entende-se nas entrelinhas que a eleição de Villas-Boas foi a obtenção do passaporte para a prometida terra dos profetas da paz. Depois é tudo uma questão de natureza humana: porque Villas-Boas pode acertar, errar, mas tudo o que fizer será dentro de um espectro de tranquilidade que não tem preço. E, dentro dessa habitação, mesmo todos os erros podem rapidamente ser transformados em resíduos. Algo que não aconteceria caso se vivesse em ventania permanente: aí, qualquer resíduo seria transformado em tempestade. Para os lados do dragão respira-se melhor.

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