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Benfica: Com jeito vai…na pândega

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Com jeito vai…na pândega
Depositphotos

A atual situação do Benfica encaixa no “Com Jeito Vai…na Pândega”, de Gerald Thomas, um filme de humor britânico dos anos 70. A falta de rumo e o desnorte são de tal forma preocupantes que, tal como no filme, o hotel dos encarnados tende a ser destruído à custa de peripécias mirabolantes caso não haja uma espécie de plano de recuperação e de resiliência. No caso, só falta mesmo a banda sonora do tema do Benny Hill.

Senão vejamos: em maio, Rui Costa dá uma conferência de imprensa em que apresenta um voto de confiança máximo a um treinador que realizou uma segunda época bem abaixo das expectativas geradas na primeira. Se, na base, o pensamento até pode estar correto, no expoente a situação é altamente preocupante: o Benfica apresenta uma face tática cristalizada, sem mutações (ou mudou-se e o resultado foi o que se viu = Real Sociedad por exemplo) e, sobretudo, sem uma garantia mínima de evolução ou desenvolvimento dos ativos.

Perante tais palavras, até ingenuamente se pensou que as coisas poderiam mudar e Schmidt pudesse apresentar, nesta época, uma equipa de diferentes faces, até porque dispunha mão-de-obra altamente qualificada. Resultado: exatamente o contrário. A ideia passou por recrudescer, através de uma tentativa pífia de máxima replicação, o desenho de jogo que permitiu ao Benfica sagrar-se campeão na primeira época. Recuperou-se Florentino para a condição de titular indiscutível, recrutou-se Barreiro (mais um “pseudo” novo Enzo) e João Mário passou para a condição de imprescindível, tudo isto condimentado com um Di Maria que passou a ser o novo Neres e Pavlidis o novo Gonçalo Ramos. E até se foi contratar Amdouni, a hipotética fiel réplica de Rafa.

Resultado? Asneirada da grossa. Como seria de esperar. Em primeiro lugar porque contratar “peça por peça” não é possível quer no Benfica quer noutra equipa qualquer e é para isso que lá estão os treinadores: que devem adaptar os seus modelos em face dos jogadores que dispõem. Depois, porque ninguém explicou a Schmidt que a receita da primeira temporada não foi assim tão boa: não fosse o FC Porto ter perdido em casa diante do Gil Vicente e a barracada teria sido estrondosa. Ou, se calhar, a melhor coisa que teria acontecido ao Benfica, pois Schmidt teria saído e a situação não se teria arrastado pelo período que se seguiu.

Num início de temporada marcado por diferentes tropelias e por um novo capítulo em torno da pré-anunciada cristalização tática, as exibições do Benfica são cinzentas e coroadas, de forma justificada, com uma cortina de lenços brancos. Na tribuna, Rui Costa até deixar passar o deslize diante do Famalicão, mas prepara as tropas para a eventual dispensa do treinador. Que acontece no dia 31 de agosto – dois dias antes do fecho do mercado de transferências – e no seguimento de uma exibição – Moreirense – que, ainda assim, foi a melhor dos quatro jogos realizados. Com jeito vai na pândega. Temos então 48 horas para um novo treinador dizer aquilo que pretende e, mais importante, recorrer-se ao mercado para se realizarem os eventuais ajustes. Ou seja, espetacular para quem vende pois pode perfeitamente inflacionar o preço aos desesperados ou desnorteados de serviço. Conclusão: para além do processo de despedimento ter sido tardio ainda veio a más-horas. E sem o mínimo de nexo, com Rui Costa a quase cometer a proeza de conseguir dar razão ao “lesado” Roger Schmidt.

O outro lado da balança existe mas a sua massa é pouco significativa: o Benfica, ainda assim, no seu processo de contratações e vendas, assegurou um lucro de quase 100 milhões de euros. Mas nestas coisas quem tem razão é mesmo Pinto da Costa: os adeptos vão para as ruas celebrar títulos. Não vão comemorar nem vendas astronómicas nem operações financeiras de fazer inveja; depois, também ainda assim, Schmidt potenciou uma série de jogadores jovens que passaram a ser superativos – João Neves e António Silva, só para alguns exemplos. Ou seja, no meio da uma unanimidade em torno da sua falta de capacidade para levar o Benfica rumo à glória, convém não esquecer que o técnico alemão não é propriamente o tipo mais incompetente do mundo e ainda deixou uma obra – aposta na formação – que deve ser aproveitada pelo senhor que se seguir.

Próximos capítulos? Complicado pois ninguém quer liderar um clube que, de momento, é um verdadeiro saco de gatos mas que mantém, em face da sua grandeza, a exigência em alta. Sobretudo com Sporting e FC Porto uns furos acima e com reais perspetivas de crescimento. Ou seja, dificilmente alguém quer vir para o Benfica nesta altura sob pena de ficar altamente chamuscado. É lógico que é também nestas alturas que aparecem os super-heróis, sendo que a capa assenta bem a Bruno Lage – sobretudo porque é bem mais capaz em termos táticos do que Schmidt, e um benfiquista com profunda ligação à formação.

O Benfica é, neste momento, um clube tão bem gerido como o hotel no Mediterrãneo de “Com Jeito vai na Pândega”. Com eleições marcadas para 2025, e mesmo que as coisas virem daqui para a frente (improvável), dificilmente Rui Costa terá margem de manobra para continuar como Presidente. E não espanta: afinal Rui Costa chegou das arábias num contentor de dinheiro e sem nenhuma sensibilidade para o futebol. O homem que mordeu o cão ou então o seu contrário e estamos perante um Presidente que foi um dos melhores números dez portugueses de todos os tempos. Há coisas muito difíceis de entender. Rui Costa, maestro ou Presidente, também com jeito vai na pândega.

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