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Portugal: Sub-21 e o hemisfério dos certinhos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal: Sub-21 e o hemisfério dos certinhos
Federação Portuguesa Futebol

Seleção vista sempre em pirâmide e nunca como um conjunto de parcelas que, devidamente somadas, não resultam em coisa nenhuma. Daí que as escolhas de Renato Veiga e de Tiago Santos para os A tenham obedecido a uma premissa determinante: a seleção de sub-21 é a antecâmara da seleção principal, e o bom rendimento no último degrau de escada pressuporá, sempre, uma natural ascensão ao topo da pirâmide.

É claro que quanto maior for a exigência competitiva, também maior será a preparação dos jovens jogadores. Fazendo a ponte com o que se passa no futsal, em que o contentor de êxitos recentes esteve interligado com um processo de capitalização das camadas jovens, num cenário em que vencer a Espanha era quase o pão nosso de cada dia. E nunca um fantasma que se prolongava até aos tempos dos escalões principais.

O facto da seleção de sub-21 estar a um ponto da fase final do europeu confere, por um lado, a atribuição imediata desse cenário competitivo e possibilita a necessária abertura para que a seleção principal possa beber desse mesmo filão. Neste paradigma, pode também abordar-se a questão do desenho tático: colocar-se em cima da mesa a possibilidade da seleção de sub-21 atuar de uma forma muito semelhante àquela que a seleção nacional atua.

Por duas razões, tal não faz sentido: em primeiro lugar porque uma seleção de sub-21 não é uma equipa “B” e, muito embora a prioridade deva ser dada à equipa principal, a equipa nacional tem de estar sempre nos lugares da frente; depois, porque a cabeça de Roberto Martinez gravita – e bem – em termos de vários modelos táticos difíceis de assimilar por um eventual um grupo aberto e extenso, sendo que o contexto da seleção de sub-21 deve ser mais flexível que o da equipa principal. Por aí também não.

E o trabalho de Rui Jorge deve ser sublinhado e exaltado. Dalot, Vitinha, Francisco Conceição, Diogo Costa ou Rafael Leão, entre tantos outros, que foram trabalhados – sobretudo em termos de contexto competitivo (duas finais do euro sub-21 leia-se) – que conferem a um vasto leque de jogadores aquele controlo invisível do nervoso miudinho, e consequente potenciação das suas capacidades na hora decisiva. Na hora de fazer a diferença. Finais perdidas leva-as o vento. Em vez de choramingar ou lamentar o facto de se ter perdido isto ou aquilo, interessa sublinhar o correto desenvolvimento e um trabalho condizente com aquelas que são as reais necessidades de uma das mais talentosas seleções do mundo.

Na Croácia, voltou a pontificar uma equipa muito “certinha” e assente num losango de meio-campo com algumas nuances particulares. Desde logo a colocação de Vasco Sousa na posição de médio-defensivo – ligação com a primeira fase de construção – num recuo peculiar em relação ao que acontece no FC Porto, onde joga mais à frente. E o segredo da vitória residiu na forma como, na segunda parte, os setores foram devidamente alimentados por um central – Gabriel Brás – que fez a sua estreia e esteve em grande. Para além dos cortes providenciais logo à abrir, saliência para a capitalização do jogo entrelinhas na segunda metade, situação que provocou um desconforto na linha defensiva croata e, por conseguinte, foi fulcral para a equipa portuguesa alcançar a vitória de forma fácil.

Registo, sobretudo, para uma segunda parte em que a seleção bloqueou as combinações croatas que tanto alvoroço causaram no início e, também, para um conjunto de movimentações complexas que desaguaram nos golos lusos, sendo que tais movimentações não são o resultado de semanas de treino (impossível) mas sim por um ramalhete de jogadores particularmente dotados do ponto de vista técnico. Todos, sem exceção. Uma premissa de “joga bonito” que é característica do próprio técnico Rui Jorge.

Uma equipa portuguesa onde os avançados são rápidos – Fábio Silva e Tiago Tomás – e preparados para tarefas defensivas – TT tirou um golo certo aos croatas mesmo a fechar a primeira parte. E onde os laterais são expostos no plano ofensivo, com o propósito de darem à seleção o foco de alimentação dos corredores que esta poderia não ter se assim não fosse.

E onde mesmo o guarda-redes Samuel Soares mostra as suas asas. Um fantástico jogo de pés – na segunda parte isolou Tiago Tomás – e um par de intervenções decisivas que fizeram a diferença nas contas finais. Ora, e fazendo a ponte para o que acontece ao nível do clube, é certo que Trubin é indiscutível e mais experiente, mas nada impede que o Benfica prepare o seu futuro tendo por base um guarda-redes jovem, robusto, e com muito potencial para fazer a diferença sobretudo ao nível do jogo de pés cada vez mais importante nas equipas de topo. Se o papel de Roger Schmidt foi deveras importante no seu crescimento e afirmação, o jovem guarda-redes terá em Bruno Lage um técnico que, para lá de tudo, tem muita sensibilidade para lançar jovens sem quaisquer entraves.

Se um contexto do género traz também um conjunto de soluções aos clubes, a próxima dupla jornada será acessível – Andorra e Ilhas Faroé – com a possibilidade de se abrir mais o leque e de se realizarem novas experiências. Sim, a fase final do europeu é um objetivo mas a ligação umbilical com os A determina que qualquer abertura competitiva possa ser aproveitada em conformidade. Sem reservas.

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