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Sporting: A queda do último dos românticos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: A queda do último dos românticos
Depositphotos

O Sporting sabe que não pode manter Rúben Amorim toda a vida. Ponto. Por aí tudo bem. Agora, a possibilidade de saída do melhor treinador dos leões desde o 25 de abril para o Manchester United, a meio da época, é uma machadada na romântica ideia de que os projetos valem mais que o dinheiro. O que não é propriamente censurável. Mas é um eventual final menos feliz dentro de um final feliz.

Não é todos os dias que se recebe um convite para se ocupar a mítica “cadeira de sonho de Alex Ferguson. Depois, existe a questão curricular: são duas ligas em quatro possíveis (leia-se 50%), duas taças em quatro possíveis (também se leia 50%) e uma Supertaça, isto para além de ter recrudescido o Sporting europeu que tão bem se tem portado na competitiva Liga dos Campeões. E com uma equipa feita e produzida pelo próprio. A régua e esquadro. E com hábeis vocábulos sempre na ponta da língua, capazes de conquistar pontos em cada entrevista rápida ou conferência de imprensa. Amorim é top!

Do lado frio do prato: ora, perante tal demonstração de competência, quem é que pode ter efetivamente moral para dizer a Amorim o que pode ou não pode fazer? Ninguém. Tudo é respeitável no encalço de uma missão que é, a meio da época ou no seu ocaso, uma missão cumprida. O maior responsável pelo Sporting aos dias de hoje maior candidato ao título é Rúben Amorim e, no tal cubo de gelo da análise, não há nenhum argumento que possa fazer vacilar um desempenho a todos os títulos formidável e que largamente superou as expectativas. O Sporting é uma das melhores equipas da Europa. Ponto.

Agora, o lado escaldado. O lado latino da coisa. É que a calibradíssima equipa do Sporting tem todas as condições para vencer a liga portuguesa (fora as restantes competições internas) e assegurar uma prestação de arromba na Liga dos Campeões. No fundo, se chegou o Manchester United em outubro, lá chegará outro tubarão mais para o verão. Sem dúvida. E, mesmo que o cenário final não seja tão colorido como se prevê, Rúben Amorim possui toda uma almofada de segurança que o pode tranquilizar sobre o próximo destino a seguir. Aos bons não faltam ofertas. Também ponto final e parágrafo.

Nesta equação, a variável assenta também nos limites que o Sporting apresenta dentro do seu próprio contexto de liga portuguesa. É que no United, se Amorim quiser um “Ioannidis” desta vida, poderá tê-lo sem grandes problemas. Tau. É que é muito giro ter Harder – que é um excelente jogador – mas dá muito trabalho e leva muito tempo a lapidar um diamante. E escassos segundos levam títulos para outras paragens.

Sim, o Manchester United não é um clube qualquer. Não é o West Ham. Os “red devils” têm três Ligas dos Campeões no museu e comportam um misticismo especial que é característico dos grandes clubes. Apesar de estar em 14º lugar na liga inglesa, o United é um gigante adormecido que, a todo o momento, poderá renascer das cinzas e capitalizar todo um encanto que abraça e seduz a Europa. Ser treinador do United é ser escrutinado todos os dias. É ser uma personalidade planetária. É sair da cápsula leonina e entrar num novo mundo onde cada ida ao restaurante é, por si só, sinónimo de manchetes no jornal do dia seguinte.

A eventual ida de Rúben Amorim para o United aporta também aquele cenário não testado. Como lidar com superegos? Sim, porque uma coisa é colocar-se Slimani no seu devido lugar e enterrar a situação com meia dúzia de palavras bem medidas. Outra coisa é lidar com eventuais amuos de Bruno Fernandes, Casemiro ou Marcus Rashford. E sim, uma coisa é apanhar-se Gyokeres a fumar shisha numa discoteca de Lisboa e apagar-se a situação de pronto com a permitida e saudável loucura dos vinte anos. Mas outra coisa , completamente diferente, é lidar-se com uma situação semelhante no meio do turbilhão efervescente de Manchester. É que o Amorim mais duro, mais disciplinador e sisudo, ainda não saiu do armário. Ou, por outras palavras, ainda não sabemos se existe.

Qual a melhor decisão a tomar? Se calhar continuar ao leme do Sporting e esperar pelo final da temporada. Deixar o lado latino fluir. E por três razões: em primeiro lugar porque o lugar do último dos românticos colocará o desapegado Amorim ainda mais na História do futebol, capitalizando sorrisos agora e daqui por cem anos. Depois, porque não se deve terminar um trabalho de autor a meio de um pequeno ciclo. E, por último, por uma questão de confiança nas suas próprias capacidades: Amorim tem capacidade, inteligência e competência para treinar o clube que quiser e na altura que quiser. É enorme.

É claro que estes cenários não se podem prolongar para lá da razoável. Se é para sair, que Amorim o faça já e o mais rápido possível. Até para salvaguardar os interesses de um Sporting que, caso saia, tem de restabelecer os seus níveis de estabilidade com rapidez, ainda por cima quando estamos a entrar em novembro. E agora também se verá o que realmente vale Frederico Varandas. O que valerá Varandas no pós-Amorim? O teste de fogo.

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