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FC Porto: O problema de se chamar Vítor

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: O problema de se chamar Vítor
Depositphotos

Ao ver o Moreirense - FC Porto, fica aquela sensação de que, em condições normais, de tranquilidade, os dragões teriam seguido em frente na Taça sem grandes sobressaltos. Porque a questão parece ser outra: depois de Lazio e Benfica, é um facto que os dragões vivem debaixo de um ninho de vespas, que se exacerba quando estão a perder. Aí é que está o real problema. Reação à adversidade ainda não consolidada, o que é grave numa equipa muito jovem.

No caso, para se perceber o real, o melhor que se tem a fazer é escavar o abismo da especulação. Porque nunca é fácil para um número dois subir a número um, sobretudo pelos laços naturalmente mais íntimos e próximos que se criam com os jogadores. Se o treinador principal, muitas das vezes, é o elemento que abre a porta do balneário e faz o mundo congelar, o papel do adjunto passa, também muitas das vezes, pela humanização natural dentro daquilo que é uma relação saudável entre todos. Dentro de um grupo harmonioso.

O que está a acontecer a Vítor Bruno faz lembrar o que aconteceu a Vítor Pereira há doze anos. Quando substituiu André Villas-Boas no comando técnico. Era o FC Porto cinzentão, eliminado pela Académica da Taça por 3-0 e a sucumbir na Liga dos Campeões diante do Apoel também de forma incompreensível. Nem tático, nem de escolhas. O problema pareceu apenas contextual. É certo que existia um vasto núcleo de jogadores que preferia rumar a outras paragem após a conquista da Liga Europa, mas o ponto de inflexão que acabou por fazer regressar a tranquilidade e colocar o dragão na rota do título foi a afirmação de Vítor Pereira como líder. Mérito do próprio, claro está, e uma ajuda decisiva por parte do tempo: a espuma dos dias faz o seu papel. O tempo leva tudo.

Doze anos depois, o fantasma de Sérgio Conceição ainda paira e as comparações com o seu antecessor são naturais e legítimas. Seja como for, o pior que Vítor Bruno pode fazer é conduzir por essa estrada. Porque, acima de tudo, o FC Porto está muito longe de estar pior do que no passado. Até pelo contrário. Os dragões têm uma amplitude de soluções ofensivas muito mais coloridas e as oportunidades surgem com muita regularidade. No concreto, o FC Porto é uma equipa muito mais dominadora e luzidia no momento ofensivo – mais jogo interior (sobretudo), um maior envolvimento dos laterais e um acréscimo de criatividade - que torna o dragão mais perigoso diante de equipas compostas por blocos mais baixos.

Porque Bruno Lage tem razão: o FC Porto tem coisas mesmo muito interessantes. Sendo que o mais desinteressante da equipa dá pelo nome de transição defensiva. Em Moreira de Cónegos, mesmo numa primeira parte de claro domínio dos dragões, foi normal ver o Moreirense a ultrapassar as linhas de pressão e a ficar perante uma situação de apenas três defesas, com o meio-campo em sôfrega recuperação para compensar os danos. Porque o FC Porto ainda está a recuperar de uma espécie de cirurgia cardiovascular tática que Vítor Bruno operou. Puxou a equipa para a frente com toda a confiança – veja-se a facilidade com que os dragões encostaram o United às cordas – sem ter a devida salvaguarda ao nível defensivo. E a leitura faz-se também no seguimento do desaire da Luz: a própria saída de bola é um movimento ofensivo que o Benfica condicionou de forma inteligente, levando os dragões a tombarem de uma maneira quase natural.

Por aí reside o cerne da critica. Se fosse Sérgio Conceição ainda o treinador, será que Nehuen, Tiago Djaló ou Francisco Moura já seriam titulares dos dragões? Dificilmente. O anterior técnico calibrava ao milímetro a entrada dos jogadores na equipa, protelando o processo até ao máximo dos máximos da paciência. Para que não existissem volte-faces. Já Vítor Bruno optou por um caminho mais curto e mais arriscado. Se toda a gente vê que este é o quarteto (pode até nem ser um quarteto no futuro) defensivo que mais garantias individuais dá, então toca a colocá-lo no assador sem qualquer tipo de hesitação. Siga!

Porque a reconstrução de um processo defensivo não é um processo estanque: envolve ligação com os médios; com o próprio processo de reação à perda e pressão alta; com o ajuste dos laterais seja na construção seja no processo de bloqueio das linhas de passe do adversário. E, às vezes, nem é o facto de os posicionamento estarem corretos: é, sobretudo, o detalhe que faz o jogador não reagir como deveria a um determinado imponderável e deitar tudo a perder.

Sim, tudo poderia ter sido diferente se Namaso tivesse decidido melhor logo a abrir a segunda parte. Ou então o jogo de Moreira de Cónegos serviu para se perceber que Francisco Moura ainda treme na altura de maior pressão. Mas, sobretudo, interessa perceber que o FC Porto, em condições normais, tende a melhorar. Sem revoluções nem trocas de treinador. Até porque o problema, verdade seja dita, é mais contextual. É mais Vítor Pereira há doze anos. Se calhar tudo se resolve com a naturalidade de quem vence os dois próximos jogos. Haja tranquilidade.

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