A menor quantidade de clubes do Norte na primeira liga em comparação com outras épocas deve-se em parte à crise económica que afetou as localidades próximas do Porto, defendem especialistas contactados pela agência Lusa.
O presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), Rui Moreira, traça um comparativo com a década de 90, em particular no que refere a equipas do Vale do Ave e do Vale do Sousa, formações que eram apoiadas pelo ''tecido industrial'' da zona e cujas finanças viviam fortemente do mecenato local.
''Numa altura de contenção de custos, é por aí que se começam a fazer cortes, no mecenato'', diz o empresário e comentador televisivo, que encontra aí explicações para a queda de emblemas como o Moreirense, Famalicão, Tirsense, Penafiel ou inclusivamente o Riopele, um ''caso extremo, um pouco o contraponto da CUF em Lisboa nos anos 60 e 70''.
Ao mesmo tempo, sublinha Rui Moreira, as autarquias ''deixaram de ter meios disponíveis para auxiliar as suas equipas'' e ''em termos políticos deixou de ser um trunfo para os autarcas apoiar as equipas locais'', o que também contribuiu para a menor pujança das equipas do Norte.
A hegemonia do FC Porto nos últimos anos e o respetivo menor interesse dos adeptos por equipas locais, é outro dos motivos apontados pelo presidente da ACP para uma menor hegemonia dos clubes do Norte, traçando Rui Moreira um comparativo com o que se viveu em Lisboa ''entre 1975 e 1985'', período em que ''a cintura industrial'' local ''sofreu problemas'', e clubes como o Barreirense, Oriental ou CUF perderam importância.
O geógrafo Herculano Cachinho, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, afina pelo mesmo diapasão: a ''desindustrialização'' do grande Porto reflecte-se diretamente no financiamento das equipas de futebol.
Herculano Cachinho diz que o ''mapa de clubes'' da primeira liga funciona como um espelho das ''grandes assimetrias no continente'', destacando o geógrafo a presença de duas equipas de regiões que recebem investimento graças ao turismo, casos da Madeira (Marítimo e Nacional) e do Algarve (Olhanense e Portimonense).
O contraste entre litoral e interior é também assinalado pelo docente, que define como natural que o litoral, onde ''se centra o investimento'', tenha um domínio ''inevitável'' na ''geografia do futebol''.
Rui Moreira diz que esta é uma questão ''grave'': no interior ''não há população jovem, a população está envelhecida'', o que dificulta o surgimento de ''novos valores''.
Para além disso, defende, falta o patrocínio de marcas locais.
Na Liga que arranca na sexta feira apenas estarão cinco equipas a norte do douro, a saber: FC Porto, Braga, Guimarães, Rio Ave e Paços de Ferreira.