
No GP de Macau, jovens talentos da F3 e pilotos veteranos enfrentam desafios e dilemas. Rui Valente, apesar de um acidente nos treinos, mantém-se firme, enquanto o jovem Mari Boya vê a prova como um trampolim.
O Grande Prémio (GP) de Macau, que termina hoje, é um teste de fogo para os jovens que sonham com a Fórmula 1 (F1) e um vício para o recordista de participações, que admite ter “medo de parar”.
“Fui um estúpido, parti o carro, estou pior que estragado”, confessou à Lusa Rui Valente na quinta-feira, pouco depois de ter tido um acidente nos treinos livres do Macau Roadsport Challenge, parte da 72.ª edição.
O Subaru do português nascido em Macau “estava espetacular, bom, rápido”. Mas, bastou “raspar num lado e foi o suficiente para projetar o carro para o outro lado”, lamentou Valente.
Disputado no icónico traçado citadino de 6,2 quilómetros, o GP de Macau é considerado uma das provas automobilísticas mais perigosas do mundo, uma vez que, em alguns pontos, o circuito da Guia não vai além dos sete metros de largura.
“Até já disse aos moços [mecânicos]: ‘Se não quiserem fazer nada, deixem lá o carro para lá e vamos embora'”, admite Valente, enquanto lá fora se ouvia a equipa a tentar arranjar o automóvel.
A meio da conversa, um dos mecânicos entra com uma mensagem e o piloto suspira de alívio: “Eles vão conseguir compor o carro para eu poder sair para a qualificação”.
Menos de quatro horas depois do acidente, Valente consegue a 25.ª posição na grelha de partida.
Aos 63 anos, o português é o piloto no ativo com mais provas disputadas no circuito da Guia, mas não pensa largar o volante tão cedo.
“O meu medo é parar, depois não sei o que é que vai acontecer. Vejo amigos meus, da minha geração, com a mesma idade que eu tenho, sentados no banco do café, a jogar cartas, a falar sobre idas ao médicos, os medicamentos que tomam”, diz.
“Isto para mim é uma vitamina. Tenho uma vida muito ativa e continuo a pensar como um puto de 20 anos”, acrescenta Valente, com um sorriso.
Aos 21 anos e a correr no circuito da Guia pela terceira vez, o espanhol Mari Boya já é um dos veteranos da principal prova do automobilismo em Macau, a Taça do Mundo da Fórmula Regional F3.
A segunda edição desta corrida, que veio substituir o Grande Prémio de F3, conta com cinco pilotos, alguns com apenas 17 anos, que fazem parte dos programas de desenvolvimento das construtoras da F1.
O Grande Prémio de F3 foi inaugurado em 1983 no território e ganho nesse ano pelo piloto brasileiro Ayrton Senna.
Mari Boya entrou há seis meses para o programa de desenvolvimento da Aston Martin e admitiu à Lusa que vir da F3 para a Fórmula Regional é, “honestamente, um passo atrás”.
Ainda assim, o espanhol garante estar motivado para “um traçado citadino muito prestigiado na modalidade”, onde uma vitória pode provar “duas coisas que um piloto tem que ter” para chegar ao topo.
“Precisa de ser rápido, mas com controlo. Porque aqui, no momento em que perdes o controlo do carro, tens o muro à tua espera. É preciso pilotar dentro dos teus limites, mas também com confiança, e é preciso saber dosear o ritmo”, explica Boya.
“E é isso muito o que as equipas de Fórmula 1 procuram. Não pilotos rápidos numa só volta, mas sim pilotos sólidos, sempre consistentes e que não cometem muitos erros. É preciso saber sempre o que se está a fazer”, referiu.