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Eusébio: «Ele disse que fazia uns golinhos», conta Cruz dos Santos

Um pouco antes da meia-noite de 17 de dezembro de 1960, Eusébio pisou pela primeira vez a placa do Aeroporto de Lisboa: passaram 50 anos desde o dia em que o “Pantera Negra” chegou para representar o Benfica.

Eusébio: «Ele disse que fazia uns golinhos», conta Cruz dos Santos
Futebol 365

A noite de Lisboa era fria, muito diferente do calor de Moçambique, que deixava para trás. Para Eusébio era o princípio de uma nova vida, depois de uma viagem feita de secretismos e uma discreta chegada à capital portuguesa.

À espera do jogador, que se notabilizara no Sporting de Lourenço Marques e despertara o interesse dos dois “grandes” de Lisboa, estavam poucas pessoas, entre elas o dirigente benfiquista Albino Rato e o jornalista Cruz dos Santos, de A Bola.

“Fui para o aeroporto às 11 e tal da noite de 17 de dezembro, uma noite fresca. Fui com um sobretudo quentinho que tinha comprado em Edimburgo uns meses antes e o Eusébio apareceu-me com uma roupinha muito de verão, uma gravatinha, com um ar muito modesto”, recordou o jornalista à agência Lusa.

Cruz dos Santos tinha tido a informação privilegiada, através de Rui Martins, um colaborador em Moçambique, de que Eusébio chegaria nessa noite e foi assim que se dirigiu ao aeroporto e chegou à fala com o reforço benfiquista.

“Foi a saca-rolhas que lhe fiz uma pequena entrevista, onde lhe perguntei se o que se dizia dele era verdade, que era um grande goleador, e ele disse que fazia uns ‘golinhos’”, revela Cruz dos Santos, em alusão à primeira conversa com o jogador.

Célebre é a fotografia tirada nessa mesma noite em que o antigo jornalista de A Bola, de bloco e caneta em punho, tira apontamentos enquanto conversa com Eusébio, num curto diálogo em que o goleador mostrou desde logo a sua timidez.

“Ele vinha de um pequeno mundo para um grande mundo. Tinha a noção da dimensão do Benfica naquela altura, estava expetante, talvez marcado pelo que se dizia dele, pela força do Benfica e Sporting. Mostrou-se uma pessoa tímida e parecia acossado, uma fera assustada”, lembrou o jornalista.

Depois de nessa noite seguir viagem no mesmo carro que conduziu Eusébio e Albino Rato à secretaria do clube, na rua do Jardim do Regedor, Cruz dos Santos não voltou a ver Eusébio nos dias seguintes.

Mas na sua memória está uma conversa com José Águas, o avançado de referência do Benfica, que mal viu Eusébio treinar com a equipa mostrou-se impressionado com o “Pantera Negra”.

“Ó Cruz, eu não sei, até posso ser eu, mas alguém tem que sair para ele jogar”, foram as palavras de José Águas para Cruz dos Santos, referindo que Eusébio “tinha que entrar na equipa pelo que mostrava nos treinos”.

Depois dessa noite, o futebolista – face ao diferendo entre Benfica e Sporting – ainda teve que esperar alguns meses para se estrear pelos “encarnados”, a 23 de maio de 1961, dando início a uma carreira de sucesso.

O Benfica, que nesse ano, ainda sem Eusébio, conquistaria a sua primeira Taça dos Campeões Europeus (vitória frente ao FC Barcelona, em Berna), passaria também a ser definido em dois patamares: com ou sem Eusébio.

Se o “Pantera Negra” alinhasse nos jogos particulares era certo que o “cachet” subiria de valor. Cruz dos Santos recorda mesmo um jogo da década de 60 em que convenceu Eusébio a jogar, apesar da renitência do futebolista, cansado de duramente marcado pelos adversários.

“Se ele jogasse o cachet era 25 000 dólares. Se não jogasse era 10 000 dólares. Mas ele estava cansado de levar pancada. Dei uma volta com ele à pista (…) e disse-lhe: é o seu nome, o estádio vai estar cheio, já viu a desilusão das pessoas? Pense no nome do Benfica, na sua imagem. Jogou e aos dois minutos fez um golaço e aquilo veio tudo abaixo”.

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