Carlos Queiroz diz que “teve de recorrer à justiça de um país civilizado para que fosse feita justiça”, aludindo à decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) que o ilibou do castigo aplicado pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP).
“A decisão não podia ser outra em nome da verdade e da justiça e eu estava de consciência tranquila em relação às acusações infames e calúnias que me foram dirigidas pelo secretário de Estado [Laurentino Dias] e pelo presidente do ADoP [Luís Horta]”, disse o ex-selecionador, em declarações à Agência Lusa.
Carlos Queiroz confessou não saber se a sua “maior revolta foi ter sido acusado, julgado e condenado sem ser ouvido” ou se foi a “indiferença de pessoas com responsabilidades e da própria sociedade em geral perante a denúncia que fez da situação”.
Questionou “como foi possível haver uma instituição de um país europeu” em 2010, “com poder absoluto a ponto de um diretor de serviços ter autoridade para condenar uma pessoa sem a ouvir”, coisa que “nem no tempo da chamada ditadura acontecia”.
“Não tinha necessidade de recorrer ao TAS, era-me indiferente a minha condenação pelas pessoas que me queriam fora de Portugal. Bastava-me deixar passar algum tempo e já estaria a trabalhar, mas fiz isto por uma questão de honra”, explicou Carlos Queiroz.
O antigo selecionador fez também menção a uma “dívida de consciência aos pais, família e amigos incondicionais”, quando estava sozinho “contra o Governo, a FPF e uma sociedade manipulada pela comunicação social, que está vendida e comprometida com o poder”.
Chega a falar em “vergonha” de um jornal que “tinha um página ‘on-line’ paga pelo departamento que conduziu e dirigiu as calúnias e insultos” contra si, numa demonstração de “total falta de independência e isenção” ao estar ao serviço de “pessoas e interesses duvidosos de quem utiliza dinheiro do Estado”, jornal esse que “é cara do seu diretor”.
Uma das razões que o levou a recorrer ao TAS foi o exemplo que “quis dar à classe de treinadores”: “Nestas ocasiões, o que faz é dividir-se, cuspirem-se uns aos outros, sem perceber que um dia estarão na mesma posição”.
Outra razão teve a ver com a necessidade de dizer a alguns amigos próximos “como Gilberto Madaíl [presidente da FPF], Agostinho Oliveira [ex-adjunto] e Costa [ex-colaborador], que “vale a pena levantarmo-nos pela verdade, mesmo que, às vezes, pareça que estamos sozinhos contra o mundo”.
“Pergunto ao doutor Madaíl qual o próximo passo que devo dar na minha vida, agora que o TAS veio desmascarar o cambalacho à minha pessoa com a conivência de uns e o silêncio de outros?”, pergunta.
Carlos Queiroz desafia ainda o vice-presidente da FPF, Cerqueira Alves: “Tenha a dignidade e a coragem de dizer o que lhe disse a si sobre aquilo que Amândio de Carvalho fez em termos processuais”, situação “testemunhada por nove pessoas”.
Lembrou que o acórdão do TAS que o iliba, conhecido quarta-feira, refere que as acusações de condutas graves ao nível do controlo antidoping feitas por Laurentino Dias eram “falsas e foram manipuladas por afirmações e ações contraditórias” produzidas pela ADoP.
Sustenta que o secretário de Estado deveria, “já que não teve caráter para pedir desculpa, demitir de imediato Luís Horta” e que, em segunda instância, “as pessoas responsáveis pela viciação processual e as combinações que urdiram nos bastidores deste processo deveriam ser incriminadas”.