A necessidade de controlo e equilíbrio financeiro dos clubes, num cenário de crise, dominaram hoje o primeiro dia do congresso internacional Football Talks Portugal2011, organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), em Cascais.
Nas suas intervenções, Fernando Gomes, presidente da LPFP, Dan Jones, da Deloitte, Jean Michel Aulas, que preside ao Lyon desde 1987, e Fernando Roig, diretor-geral do Villarreal, reconheceram a necessidade de não se gastar acima das receitas.
Após a abertura do congresso, Fernando Gomes referiu-se ao futebol português e sublinhou que “só se pode gastar o que se tiver e não gastar o que não se tem”.
Por isso, o dirigente, que considerou que o futebol português “não vai ficar imune à crise”, pediu aos dirigentes dos clubes “para ajustarem práticas para não sofrerem agruras”.
Fernando Gomes disse que o aumento das taxas de juro, o IVA e a retenção de IRS e o acesso limitado ao crédito bancário são problemas que se colocam no futebol português, além de referir que “o acesso a capitais alheios vai ser mais restritivo”.
No primeiro painel, Dan Jones considerou que os custos com salários no futebol português, que aumentaram de 133 ME em 2005/06 para 160 em 2009/10, estão “a subir para níveis perigosos”.
Contudo, o diretor da divisão de Sports Business da Deloitte salientou que o futebol “é um produto forte” em Portugal, “mais forte do que a restante economia”.
Por seu lado, o presidente do Lyon, Jean Michel Aulas, disse que os principais clubes do futebol português “têm um défice importante no mercado televisivo”.
“Há um risco enorme de distorção da concorrência, porque FC Barcelona e Real Madrid não se podem comparar aos melhores clubes portugueses nas receitas televisivas”, disse.
Aulas assinalou que o “Fair-Play” Financeiro “comporta um risco terrível de deflação no mercado de transferências” e referiu-se também ao “risco de os clubes em crescimento ficarem em desvantagem em relação aos estabelecidos, devido às receitas de televisão menores e às taxas de juro”.
Na última intervenção, Fernando Roig “receitou” a formação como uma das soluções para um crescimento sustentado de um clube de futebol, dando o exemplo do Villarreal, cujo orçamento cresceu dos 2,915 milhões de euros, na primeira época em que ascendeu à I divisão espanhola (1997) até aos atuais 74,135 milhões de euros.
“De início, tivemos de arriscar. Num espaço de cinco a seis anos, o orçamento foi superior em 10 por cento às receitas ordinárias, mas a ser compensado pelas transferências de jogadores e as verbas oriundas da participação em competições europeias”, disse, embora frisando tratar-se de um erro.
Uma política contínua de despesas acima das receitas vai, “inevitavelmente, ter mau resultado”, segundo Roig, acrescentando que o Villarreal está “a cortar nos últimos dois anos devido à crise”.
O Football Talks, que se conclui na sexta-feira, prossegue na quinta-feira, com as intervenções a incidirem nos fatores de sucesso e nas áreas de “marketing” e de novos negócios.