Karl-Heinz Rummenigge, presidente executivo do Bayern Munique e da Associação Europeia de Clubes (ECA), considerou hoje que “não existe democracia no futebol” e apelou para que FIFA e UEFA tentem encontrar equilíbrio entre as seleções nacionais, clubes e jogadores.
“Existe um sistema que prejudica os clubes. Não basta ganhar dois assentos na comissão executiva da FIFA. Os clubes e os jogadores devem ter direito de veto. Se virmos os estatutos da FIFA, nem clubes nem jogadores têm algo a dizer”, disse Rummenigge, no congresso Football Talks Portugal2011, em Cascais.
Rummenigge sublinhou que “existe um conflito de interesses”, entre os quais o calendário, denunciando que existe um “momento unilateral a favor das seleções nacionais” em detrimento dos clubes.
O presidente do ECA, organismo que sucedeu ao G-14 e ao Fórum Europeu de Clubes, revelou que registaram-se 40 jogos de seleções nacionais de 2002 a 2006, enquanto se realizaram 45 de 2006 a 2010.
De 2010 a 2014, a projeção é de 46 embates das seleções nacionais, que, na opinião de Rummennige, se “convertem numa máquina de fazer dinheiro”.
“Os clubes, que pagam aos jogadores, não podem compreender isto e a FIFA e a UEFA têm de encontrar soluções”, afirmou, acrescentando que, “um dia, os clubes vão fazer uma revolução e os jogadores não vão estar dispostos a seguir este ritmo”.
Para Karl-Heinz Rummenigge, “os clubes e os jogadores têm de ser integrados no processo decisivo” e classificou de “bastante forte” a luta na definição dos calendários, para que os atletas tenham “maior período de recuperação”.
Na sua intervenção no congresso internacional organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Rummenigge defendeu a criação de um seguro para os jogadores chamados para as seleções nacionais.
“Precisamos urgentemente de um seguro válido para todos os jogos de seleções. Não podemos ter uma perda financeira se os jogadores estiverem parados durante semanas. E devem ser a FIFA e a UEFA a pagarem este seguro”, advogou.
Rummenigge disse ainda que existe uma disparidade entre a compensação dada pela UEFA aos clubes (55 milhões de euros/ano) e o que o organismo tem de receitas, dando como exemplo o que receberá com o Euro2012.
“Serão 1,3 mil milhões de euros (ME), quando apenas compensa com 55, ou seja, 3,5 por cento do total pago aos clubes pela cedência de jogadores”, exemplificou.
Confessando um “otimismo reduzido” quanto ao equilíbrio necessário, Rummenigge sustentou que “a FIFA tem de pagar” e aludiu aos cerca de 60.000 ME que gerou nos últimos mundiais, sendo que apenas 3.000 reverte a favor dos clubes, o que representa 2,2 por cento.
Também o diretor executivo da EPFL (Associação das Ligas Europeias de Futebol), Emanuel Medeiros, interveio para corroborar da necessidade de “haver democracia”, porque, assinalou, “há uma falta de legitimidade nas federações internacionais”.
“As ligas são o alimento principal do futebol. Temos de ter uma voz mais forte e autoritária e temos de ter uma resposta até final deste ano”, disse Emanuel Medeiros.