Após década e meia na presidência, Gilberto Madail está prestes a encerrar o mais longo e bem sucedido capítulo da história da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), quando o seu sucessor tomar posse a 17 de dezembro.
Três dias antes de completar 67 anos, Madail abandona a “casa” da qual foi o “rosto” ao longo de quatro mandatos, que se prolongaram durante 15 anos, marcados, entre outras coisas, pela conquista da organização do Euro2004, o maior êxito da sua gestão.
O entusiasmo vivido no país durante a competição recriou a euforia sentida pelos responsáveis da candidatura, com Madail à cabeça, a 12 de outubro de 1999, quando a UEFA escolheu Portugal para a fase final do torneio.
Garantida a organização, Madail preocupou-se com a competição. Para isso, contratou Luiz Felipe Scolari, que tinha acabado de assegurar o “penta” Mundial para o Brasil, na Coreia do Sul e no Japão, enfrentando todas as críticas pela opção por um estrangeiro.
O técnico brasileiro encarregou-se de aliviar essa pressão, ao levar equipa das “quinas” à sua única final, que perdeu diante da Grécia, naquela que foi uma das sete presenças em fases finais de Europeus e Mundiais na “era” Madail, uma constante desde o Euro96 apenas interrompida no Mundial98. Para trás, contam-se somente as participações nos Mundiais de 1966 e 1986 e no Europeu de 1984.
Depois de um apuramento brilhante e invicto, Scolari levou ainda a seleção lusa ao honroso quarto lugar no Mundial2006. Mais pragmática foi a qualificação para o Euro2008, sem vencer os “rivais” Polónia, Sérvia e Finlândia, antecedendo a sombria presença na fase final, marcada pelo anúncio da contratação do “Sargentão” por parte do Chelsea.
Esta foi apenas uma das angústias proporcionadas por selecionadores. Na memória recente está o conturbado afastamento de Carlos Queiroz após a campanha no Mundial realizado na África do Sul, que quase afastou a equipa das “quinas” do Euro2012, mas que levou Madail a contratar Paulo Bento, depois de ponderar a solução temporária de entregar o comando a José Mourinho.
A presença no Mundial2002, e o estágio anterior em Macau, “queimaram” o selecionador António Oliveira e “chamuscaram” Madail, que convocou eleições antecipadas na FPF e recuperou fôlego para enfrentar o Euro2004.
Apesar de ser acusado de ter descurado a formação, o presidente cessante celebrou quatro títulos europeus, dois em sub-16 (1996 e 2000), um em sub-17 (2003) – também disputado em solo luso – e outro em sub-18 (1999), aos quais se junta ao segundo lugar no último Mundial de sub-20.
Entre as maiores “derrotas” figuram o falhanço da candidatura Ibérica à organização do Mundial2018 e a criação da Casa das Seleções, em Sintra, mas em contrapartida Portugal assegurou a realização do Europeu de sub-21 de 2006 e de futsal em 2007, bem como a final da Taça UEFA de 2005, que o Sporting perdeu para o CSKA de Moscovo.
A acompanhar a prosperidade desportiva – à qual faltou um grande título -, os cofres da FPF também foram reforçados e o organismo conheceu uma saúde financeira nunca antes registada, que lhe permitiu trocar a “velhinha” sede da Praça da Alegria pelo novo edifício da Avenida Alexandre Herculano, em Lisboa, após o Euro2004.
Com capitais próprios de 25 milhões de euros, contra os 64 mil de 1995/96, época em que Madail assumiu a presidência, a FPF apresentou um lucro de 3,3 milhões de euros na temporada de 2010/11.
No plano internacional, Madail detém a vice-presidência do Comité das Seleções Nacionais na UEFA, depois de ter pertencido ao Comité Executivo do organismo europeu, de 2004 a 2011, e, na FIFA, à Comissão organizadora do Campeonato do Mundo e da Comissão das Federações.
Natural da República Democrática do Congo, antigo Zaire, Madail, licenciado em Economia pela Universidade do Porto, é casado e pai de três filhos.
Ex-praticante amador de futebol e basquetebol, o ainda responsável federativo presidiu ao Beira-Mar durante dois anos e esteve um mandato à frente da Associação de Futebol de Aveiro.
Imediatamente antes de chegar à liderança da FPF, Madail presidiu à Mesa da Assembleia-Geral do organismo, entre 1992 e 1996, e renunciou ao mandato de deputado na Assembleia da República, depois de cumprir duas legislaturas na bancada do PSD (1987-1990 e 1995-1997) e ter sido Governador Civil de Aveiro durante oito anos.