David Blanco tem uma fixação: tentar ganhar a sua quinta Volta a Portugal e tornar-se o recordista da maior prova do ciclismo nacional. “Pro bono”, na sua equipa de sempre ou noutra qualquer é aquilo que ainda não sabe.
Há umas semanas, o ciclista espanhol foi dado como certo na Carmin-Prio-Tavira. Hoje, apresentações feitas e Prova de Abertura a um dia de distância, Blanco continua à espera, com a Volta a Portugal, que disputa entre 15 e 26 de agosto, no horizonte.
«Eu nunca disse que tinha assinado nada, algumas pessoas falaram de mais e a bola começou a ficar cada vez maior. Eu fiquei calado, ninguém me perguntou. Deram-me como certo nalguns jornais, nalguns sites de ciclismo, mas não havia nada assinado. Continuamos a tentar, mas o dinheiro não chega», contou à Lusa.
O galego mais português do pelotão, que correu a época passada na extinta Geox, confirmou que esteve tudo certo e que, entretanto, «algumas coisas devem ter falhado». «Entendo que eles tenham de pensar neles e eu tenho de pensar em mim», lamentou.
Pensar no futuro agora poderá passar por trocar a sua equipa de sempre por outra do pelotão nacional: «Cheguei ao ponto em que tem de prevalecer a minha vontade de correr a Volta sobre o meu amor pelo Tavira e, com muita dor no coração, vai ter que ser com eles ou noutro sítio».
Contactos já houve, mas o problema, segundo Blanco, é sempre o mesmo, porque, apesar de pedir pouco dinheiro, «a situação está muito complicada».
«Espero que as pessoas, ao ouvirem isto, percebam que esta é uma grande oportunidade para fazer publicidade. Sei que as coisas estão pretas e estão em todo lado, mas agora é o momento dos valentes. Sinceramente, não é por ser eu, mas penso que a rentabilidade publicitária de eu tentar ganhar a quinta é maior do que aquilo que estou a pedir», explicou.
Para o quádruplo vencedor da maior prova do calendário nacional (2006, 2008, 2009 e 2010), que tem o mesmo número de triunfos do português Marco Chagas (1982, 1983, 1985 e 1986), o valor publicitário que se pode conseguir com o assalto a uma quinta amarela é «muito grande».
No entanto, o ciclista de 36 anos reconhece que talvez não tenha «os contactos necessários para abrir as portas que são precisas» e espera que algum «empresário valente» possa ajudar.
Caso o patrocinador não apareça, Blanco não hesitará: «Se correr este ano não vai ser por dinheiro, mas porque não podia deixar a bicicleta sem tentar – pelo menos tentar – ganhar a quinta Volta. Sei que se não tentar vou ficar traumatizado para toda a vida. A única certeza é que vou correr. Seja de que maneira for, tenho de correr. Porque sim».
Para o galego, chegou aquele momento na vida em que, tendo satisfeitas as suas necessidades financeiras – «e eu preciso de muito pouco» – tem de tentar satisfazer as pessoais. E não pode passar desta época.
«Não posso ficar um ano sem correr e depois voltar a tentar, porque não sou um [Lance] Armstrong [que voltou à competição para tentar ganhar a oitava Volta a França com 37 anos]», assumiu à Lusa, negando o seu sacrifício: «Isso não é nada heroico, faço-o porque posso».