Declaração de interesses: prefiro a magia de Lionel Messi à potência de Cristiano Ronaldo. No entanto, como apreciador de futebol e de golos, não posso deixar de salientar a época fenomenal que o avançado português está a realizar ao serviço do Real Madrid. Ronaldo marca de todos os lados, de todos as maneiras e feitios imaginários, joga e faz jogar e se os merengues vencerem a Liga BBVA, ele será o grande responsável. Uma estátua no Santiago Bernabéu até que nem lhe ficaria mal…
Não devo ser o primeiro a utilizar esta expressão, mas se Leonardo Da Vinci projetasse o jogador de futebol perfeito, à semelhança do que fez com o Homem Vitruviano, Cristiano Ronaldo seria o maior candidato a cumprir as proporções traçadas pelo renascentista italiano.
O português é dono de uma compleição física invejável (é o jogador de campo com mais minutos no campeonato espanhol – 2814), soma um total de sete hat-tricks a nível interno esta temporada, tem mais tentos do que partidas (média de 1.25 golos/jogo), voltou à forma na marcação de livres diretos (concretizou outro, quarta-feira, frente ao Atlético de Madrid) e é letal nas grandes penalidades (11 em 11).
A edição de quinta-feira do desportivo As diz que o campeonato é de Cristiano, dando como adquirido o título, depois da vitória esclarecedora no derby madrileno (1-4). Com clara parcialidade, o jornal espanhol ignora os jogos que ainda faltam disputar no reduto do Barcelona e do Atlético de Bilbau, mas também a receção ao Sevilha. No entanto, e na minha opinião, outras ideias podem ser retiradas dessa manchete.
Por isso, acompanhem-me e interroguem-se comigo. O que seria o Real Madrid de Mourinho sem os 40 golos de Cristiano Ronaldo esta temporada? Fácil, em vez de 104, teria apenas 64 bolas dentro da baliza adversária. O que seria dos merengues se o prodígio madeirense não decidisse tirar dois coelhos da cartola e fuzilar Courtois com dois balázios indefensáveis, desorientando o Atlético de Madrid nos momentos em que estava por cima no jogo? Arrisco que, muito provavelmente somaria um novo empate algo insosso e ficaria a dois pontos do Barça. O que seriam dos colegas de Ronaldo, que ao contrário do português não conseguem aguentar a pressão de um Barcelona muito superior como equipa? Não sei, mas muito possivelmente o 5-0 de Camp Nou poderia ter acontecido por mais do que uma ocasião. Se foi isto que o As quis dizer com a sua capa, peço desculpa.
Outra ressalva. Desde os tempos do Manchester United que Cristiano Ronaldo se tem tornado num futebolista mais eficaz e que procura sempre o caminho mais curto para atingir o golo. A finta arriscada foi substituída pelo passe ao colega do lado, o pormenor e a beleza do lance deixaram de interessar. O português quer é marcar e fá-lo à bomba, se preciso. O Real Madrid agradece, os adeptos merengues agradecem, o futebol agradece e eu arrisco-me a dizer que, pela primeira vez, José Mourinho não é a grande figura da equipa em que se encontra. A figura chama-se Cristiano Ronaldo. E que figurona!