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A identidade de um clube ou o dinheiro fácil dos investidores?

Foi com muito desgosto que li, na quarta-feira transata, uma notícia que referia a possibilidade do Cardiff City, clube galês que atua na segunda liga inglesa, mudar a cor do seu equipamento de azul para vermelho.

A identidade de um clube ou o dinheiro fácil dos investidores?

Os investidores da Malásia que entraram na instituição prometem a construção de um centro de treinos novinho em folha, mais o alargamento da capacidade do Cardiff City Stadium. Mas com uma condição: o clube que já joga há 104 anos de azul poderá ter de começar a usar vermelho, isto porque essa cor tem maior capacidade de venda de merchandising na Ásia.

A ideia não agradou, obviamente, aos adeptos. Mas há pior. Além da cor do equipamento, os senhores do dinheiro pensam em mudar o próprio emblema dos galeses. Assim, a equipa que sempre foi gentilmente tratada por ‘Blue Birds’ poderá passar a ter um dragão vermelho no lugar do pássaro que nunca foi preterido do símbolo do Cardiff, apesar das três modificações de que já foi alvo durante a sua longa história. Justificação: o vermelho é considerado uma cor de sorte na Ásia.

Este assunto deixa-me incomodado por dois motivos: o primeiro é pelo facto de o futebol ser cada vez mais um negócio, controlado por entidades estranhas à modalidade, ao país e à cultura dos clubes que aceitam ou são obrigados a aceitar estes investidores; em segundo lugar, fico muito preocupado por ser em Inglaterra, o país que na minha opinião melhor sabe viver o futebol e mais espetáculos proporciona aos adeptos, que esta tendência mais se tem feito notar.

Todos se recordam do Portsmouth, clube do sul do Reino Unido, que há duas temporadas foi penalizado com nove pontos e consequente descida de divisão, por ter requerido administração para evitar a falência. Antes disso, os Pompey contrataram vários jogadores de renome e chegaram às competições europeias (jogaram com os portugueses do Sporting de Braga), até entrarem num buraco sem fundo, que piorou este ano, com a descida à terceira divisão do país. Mais recentemente, na Escócia, o histórico Glasgow Rangers foi penalizado com dez pontos, ficando arredado da luta pelo título e com uma enorme dívida para pagar, depois de também ter entregado a sua gestão a entidades exteriores.

Olhando para o panorama inglês, torna-se claro que este tipo de política tem tudo para crescer exponencialmente, alastrando-se cada vez mais. Manchester United, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Fulham, QPR e Blackburn já são detidos por proprietários estrangeiros. E isto pode constituir um problema, uma vez que esses clubes pretendem que a Premier League não tenha despromoções, muito à semelhança do que acontece na NBA. Para isso basta terem 14 votos a favor, num total de 20 equipas, conforme mandam os regulamentos da competição. Bom ou mau? Não sei, mas a identidade do futebol britânico pode ficar aqui irremediavelmente ameaçada.

E depois o resto. PSG, na França, Málaga, em Espanha, Anzhi, na Rússia. Todos eles com muito dinheiro, mas pouco controlo e dívidas galopantes. Um aviso? Cuidado, muito cuidado!

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