O Corinthians sagrou-se pela primeira vez campeão da Taça Libertadores da América e a segunda maior claque do Brasil, com mais de 25 milhões de pessoas, pode finalmente soltar o grito preso na garganta há 35 anos.
Após uma campanha invicta, a equipa paulista venceu esta madrugada o Boca Juniors, da Argentina, por 2 a 0, numa partida nervosa. Como manda o estereótipo latino-americano, os argentinos bateram mais. E os brasileiros, conhecidos por não agüentarem entradas mais fortes, caíram mais.
Devido ao tamanho e à paixão da claque, o ambiente pelas ruas de São Paulo era de Mundial de Futebol desde o início de quarta-feira. Bandeiras em carros, pedestres uniformizados com a roupa da equipa, cornetas e fogos de artifício coloriram a cidade de branco e preto, as cores corinthianas.
Na rede social Facebook e no microblog Twitter, corinthianos e rivais, que apoiaram o Boca Juniors, trocaram provocações. Até o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva deixou a sua mensagem: ''#vaicorinthians'', em referência à frase mais falada pela claque.
E a vitória não foi fácil. Adeptos roeram as unhas por mais de 45 minutos. Aos nove minutos do segundo tempo, o avançado Emerson Sheik anotou o primeiro golo e levou um pouco de tranquilidade aos ansiosos. Aos 28 minutos anotou o segundo e a claque explodiu em comemoração e choro emocionado.
O estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu, em São Paulo, foi o palco da vitória histórica, mas ficou pequeno para o tamanho da claque.
Os mais de 35 mil lugares destinados aos corinthianos, entre os 40 mil do estádio, encheram rapidamente. O publicitário Daniel Venâncio, de 24 anos, conseguiu o seu lugar e, para não correr risco de derrota, recorreu à superstição e vestiu o dia inteiro a mesma roupa de todas as partidas da Libertadores: uma camisa branca, uns jeans cinzentos e uma camisa preta da equipa, que colocou na hora da partida.
''Esse título é o que a gente mais sonhou nos últimos anos. Fiquei tão nervoso que não consegui dormir à noite'', disse à agência Lusa por telefone.
Para os adeptos que não conseguiram um lugar no Pacaembu, ecrãs gigantes foram colocados em locais estratégicos da cidade, como na quadra da claque organizada, a Gaviões da Fiel, no estádio que está a ser construído em Itaquera, na zona leste, e no sambódromo do Anhembi, onde são realizados os desfiles do Carnaval.
O Corinthians era a única entre as quatro grandes equipas de São Paulo que não possuía o título da Libertadores, o mais importante do futebol profissional da América do Sul. Agora, com a taça, a equipa carimba o seu passaporte para o Mundial de Clubes de Tóquio.
''Vai ser Corinthians e Chelsea, 3 a 0, e sem hipótese para os ingleses'', disse à Lusa o corinthiano Ricardo Cintra, de 33 anos, prevendo o resultado do Mundial. Após o fim da partida da Libertadores, Cintra ajoelhou-se, rezou e chorou no sambódromo. Em seguida, levantou-se e juntou-se ao ''bando de loucos'', como os corinthianos se auto-denominam. Hoje, o Brasil é branco e preto.