A contratação do extremo argentino Salvio por 11 milhões de euros gerou alguma revolta em determinadas fações benfiquistas, na minha opinião com toda a justificação. Se o Benfica dispõe de mais de uma dezena de milhões para contratar um jogador para uma posição em que tem um grande excedente, porque não ter aplicado tal dinheiro na compra de um defesa-esquerdo para titular e um defesa-direito que sirva de alternativa a Maxi Pereira?
Por mais que o treinador encarnado tente encobri-lo, Luisinho e Melgarejo estão a mostrar importantes debilidades na posição de defesa-esquerdo. Não falo tanto em termos ofensivos, pois o jogador paraguaio até sobe com regularidade e cruza exemplarmente. Falo em termos defensivos e na facilidade com que, em certas ocasiões, estes dois jogadores são ultrapassados. Na partida amigável entre o Benfica e a equipa de Luís Figo e Resto do Mundo, Melgarejo foi ultrapassado pela antiga glória portuguesa sem espinhas. Do alto dos seus 39 anos, Figo saiu com classe e sem oposição da marcação do ex-jogador do Paços de Ferreira. Tem a atenuante de ter ocorrido num jogo a feijões, mas vale o que vale.
Não coloco em causa as capacidades do treinador das águias para conseguir moldar um extremo para sítios mais recuados, adaptando-o a defesa-esquerdo, mas é preciso assumir que se trata de uma opção de risco… demasiado risco. Com Fábio Coentrão tudo correu às mil maravilhas. Foi talvez um dos casos de maior sucesso no futebol mundial em termos de adaptações posicionais, mas com Melgarejo é diferente.
Por três razões: primeiro existe a herança de Emerson. O defesa brasileiro foi uma aposta regular de Jorge Jesus durante a temporada passada, mas atuou sempre debaixo de enorme pressão e com críticas constantes dos adeptos. Segundo, devido a essa (pobre) herança de Emerson, o lado esquerdo benfiquista estará mais vigiado do que nunca e, ao mínimo deslize, Melgarejo será severamente e, talvez, injustamente criticado. Quem sabe, comparado ao seu antecessor pelos piores motivos. Terceiro e último, o regresso de Salvio veio adensar as críticas à falta de investimento num defesa-esquerdo e na teimosia de Jorge Jesus em contratar um, o que, inevitavelmente, juntará ainda mais pressão aos ombros de Melgarejo.
Nicolás Gaitan, Bruno César, Nolito, Yannick Djaló, Salvio, Enzo Perez, Ola John, Rodrigo, Melgarejo: todos eles são opções que poderão atuar como extremos. Assumindo que Melgarejo será adaptado a defesa-esquerdo e Rodrigo jogue mais na zona atacante central, continuam a sobrar sete nomes para dois lugares. Ainda para mais jogadores de qualidade aproximada e que vão querer sempre lutar pela titularidade.
Conclusão: o Benfica e Jorge Jesus estão a complicar uma situação que poderia e poderá ser muito fácil de resolver (até 31 de Agosto haverá tempo). Nomes como Taiwo (AC Milan), Rojo (Sporting) e José Ángel (AS Roma) estão ou estiveram apontados aos encarnados e, muito provavelmente, chegariam por metade dos 11 milhões pagos por Salvio, aumentando a consistência de opções nas diversas posições da equipa.
A grande meta do Benfica esta época já foi traçada pelos responsáveis do clube: impedir o FC Porto de se sagrar tricampeão. Se em condições normais travar o conjunto nortenho já é complicado, dificultar as coisas sem necessidade só tornará tudo ainda mais difícil…
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