Vieira VS Pinto da Costa: Vergonha é o futebol não ser protagonista

No meio de trocas de palavras desnecessárias e que pouco mais fazem do que encarrilar massas de apoiantes cegos pelo seu clube em discursos de puro ódio, estes dois presidentes estão a conseguir fazer esquecer o mais importante: a paixão e a vibração da modalidade jogada.

O pretexto foi a alegada agressão de Luisão ao árbitro do encontro entre o Benfica e o Fortuna Dusseldorf, disputado no último sábado. O juiz, Christian Fischer, caiu inanimado no relvado após um encosto mais expedito do capitão dos encarnados e terminou a partida ainda antes do intervalo, recolhendo aos balneários sem mais explicações. Os responsáveis do clube lisboeta ainda tentaram um entendimento para a repetição da partida no dia seguinte, mas nada feito. A polémica estalou e o circo começou.

Logo no dia seguinte, após a conquista da 4ª Supertaça de Portugal consecutiva frente à Académica de Coimbra (1-0), Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, fez questão de vir a praça pública incriminar a atitude de Luisão e a imagem que o Benfica deixou do futebol português além-fronteiras. «Foi bom para compensar o triste episódio da Alemanha. São esses episódios que fazem o futebol ter uma má imagem», comentou, deixando alguns adeptos portistas contentes e a maioria dos benfiquistas muito desagradados.

Na sexta-feira, Luís Filipe Vieira não deixou as declarações de Pinto da Costa em pratos limpos, respondendo com grande rispidez ao presidente dos bicampeões nacionais. «Fazer cruzada cobarde contra Luisão é algo que não vou tolerar. Há sempre quem aproveite para atirar pedras, esquecendo tudo o que fizeram no passado. Todos nós, Luisão incluído, gostaríamos que o episódio não tivesse sucedido. Pôr em causa a boa-fé, o carácter e a palavra do nosso capitão é algo mesquinho e inaceitável. Para quem falou em vergonha, é bom que faça um exercício de memória», atirou, com o máximo dirigente azul e branco no alvo.

Mas o melhor, ainda mais por se notar que se tratou de um discurso cuidadosamente preparado ‘a priori’ veio a seguir. «Vergonha é ser condenado por corrupção desportiva. Vergonha para o país foi saber-se que houve quem corrompesse árbitros com prostitutas e outros esquemas. Vergonha foi todos sabermos o que se passou, quando e como se passou, mas a justiça portuguesa ter preferido ignorar os factos. Vergonha é recordar a imagem de árbitros como José Pratas e outros a fugirem de campo de jogadores e adeptos. Vergonha é agredir jornalistas por terem opinião. Vergonha é intimidar pessoas do próprio clube apenas porque pensam de forma diferente. Vergonha é ameaçar ou agredir jogadores apenas porque estes não querem renovar ou ser emprestados. Vergonha é ter ordenados em atraso e fazer de conta que não se passa nada. Vergonha é saber que algumas pessoas gozam de total impunidade em Portugal», respondeu Luís Filipe Vieira.

Já hoje, Pinto da Costa voltou a lançar achas na fogueira. «Ele disse que não teve vergonha do que aconteceu, mas foi a correr para a Alemanha e à Federação pedir perdão para não ter consequências graves. Não vou entrar nesse jogo», começou por dizer, concluindo com mais uma suposição. «O Benfica vai ter eleições em Outubro e o Sr. Luís Filipe Vieira está em plena campanha eleitoral. Já afastou até os possíveis candidatos com a alteração dos estatutos. Portanto, na sua óptica, nada melhor do que criar uma guerra. Mas se pensa que vou dar troco dessa maneira está muito enganado», sustentou.

Tendo em conta este triste cenário e sabendo que muito provavelmente se prepara nova resposta de Luís Filipe Vieira, resta-me concluiu a minha exposição com a seguinte moral da história. Vergonha é desvirtuar a prática pura e dura do futebol. Vergonha é tentar contaminar os adeptos com um espírito bairrista em relação aos rivais. Vergonha é aceder aos meios de comunicação para discursar a belo prazer sobre o que bem nos apetecer. Vergonha é acusar os semelhantes de acções que nós próprios já cometemos. Vergonha é inserir as crianças que começam a vibrar com a modalidade num clima de guerra fria. Vergonha é o futebol não ser o maior e o único protagonista!

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