Todos os anos o mundo do futebol vive o mesmo ritual. Os jogadores regressam de férias e dão início à tão sofrível pré-época. São várias semanas de intensos exercícios físicos e tácticos que permitem aos treinadores afinar estratégias para o novo ano desportivo. O único senão é o período de transferências. Em poucos dias, todo o trabalho realizado é posto em causa.
É a lei do mercado. O dinheiro manda. Países como Portugal vivem na necessidade de encaixe financeiro. O mundo do futebol não é excepção. Em poucas horas, clubes como o Benfica e o Porto viram dois dos seus principais activos serem vendidos. Desta feita foi um clube russo, o Zenit de São Petersburgo, a conseguir as contratações de Hulk e Witsel. É cada vez mais difícil competir com os “novos-ricos” do futebol mundial. Manchester City, PSG, Málaga e Zenit são alguns dos clubes que desequilibram a balança. Se por um lado o encaixe financeiro é sempre uma enorme ajuda, principalmente para clubes que necessitam de vender para equilibrar as contas, o que dizer do aspecto desportivo?
Vítor Pereira, na última conferência de treinadores de elite da UEFA, pôs o dedo na ferida. Do ponto de vista desportivo é ingrato um treinador trabalhar arduamente durante mês e meio com jogadores que vê depois partir em poucas horas. No caso do Benfica, o clube encarnado viu o seu meio-campo ser dizimado em pouco mais de duas semanas. Witsel e Javi Garcia escolheram outras paragens para prosseguir a carreira, uma escolha aceitável, mas que deixa o Benfica em situação complicada já que não teve tempo de contratar ninguém para colmatar a perda do espanhol e do belga. Apesar de Jesus ter afirmado que existem boas opções no plantel, não irá ser fácil manter a mesma dinâmica da época passada.
O FC Porto, por seu lado, perde um dos principais jogadores. Hulk era, muitas vezes, quem levava a equipa para a frente, principalmente naqueles jogos em que o colectivo não funcionava. O treinador azul e branco vê assim o seu sector ofensivo ficar mais pobre. Pressinto que esta época, tal como aconteceu com a venda de Falcao, o FC Porto vai sentir muito a falta de Hulk.
A UEFA necessita urgentemente de rever os períodos de transferências. Faz pouco, ou nenhum sentido, mercados estarem abertos para lá do dia 31 de Agosto (sendo esta data já demasiado tardia). Por conta disto, existe uma concorrência desleal no futebol actual. Uma coisa é as contratações serem efectuadas num período igual para todos, outra é certos campeonatos (Rússia, França, Turquia) verem o período de contratações alargado.
A vida de treinador não é fácil. Acredito que não precisem de mais este handicap para realizarem o seu trabalho. É na pré-época que se faz o grosso do trabalho de todo o ano desportivo. Ficar sem jogadores ou treinadores nestas condições não beneficia em nada o futebol. Caso as coisas corram mal a Vítor Pereira e Jorge Jesus, será que a culpa é só deles? Dinheiro e futebol andam juntos, mas quando o primeiro se sobrepõe ao segundo algo está errado…