Durante esta semana, um cibernauta mais atento reparou no dinheiro gasto pelo FC Porto em algumas das suas compras neste século XXI e no valor que esses mesmos ativos renderam poucos anos depois. As primeiras conclusões são simples e comprovam por completo o poder que os bicampeões nacionais têm para fazer render o seu peixe: as principais compras custaram 60 milhões de euros, mas as vendas atingiram 300 milhões, ou seja, 240 milhões de lucro puro e duro.
Esta tendência começou a identificar-se desde a chegada de José Mourinho ao Estádio do Dragão. Lembro-me como se fosse hoje. O ‘Special One’ deu um murro na mesa e prometeu o título de campeão em situações normais ou anormais, mas ninguém acreditou nele. Entre as suas contratações estavam Nuno Valente, Paulo Ferreira, Costinha, Maniche e Deco. Jogadores que hoje são verdadeiras referências do futebol nacional, mas que na altura não passavam de modestos desconhecidos.
E é a partir daqui que se começa a desenhar um período singular de conquistas e de encaixes financeiros. Paulo Ferreira chegou do Vitória de Setúbal e, dois anos depois, foi parar ao Chelsea de Abramovich a troco de 20 milhões de euros. Melhor só com o francês Aly Cissokho. O defesa-esquerdo esteve meio ano no emblema sadino, foi contratado pelos azuis e brancos por menos de 500 mil euros e saiu por… 15 milhões de euros para o Lyon.
Mas há mais exemplos. Maniche chegou no mesmo ano de Paulo Ferreira, proveniente do Benfica B, pois não tinha lugar no plantel principal das águias. Pouco tempo depois já era uma peça-chave do FC Porto e da Seleção Nacional. Em 2005, venderam-no ao Dínamo de Moscovo por 16 milhões de euros. Deco, imagine-se, foi contratado ao Salgueiros em 1998 e, em 2004, vendido ao Barcelona (onde se tornou titular absoluto) por 21 milhões de euros.
Numa tabela elaborada pelo site Futebol Finance em 2009 são discriminadas as 25 maiores vendas de sempre em Portugal. É claro que aqui ainda não estavam presentes os excelentes negócios de Falcao, Axel Witsel, Hulk e Javi Garcia, mas dá perfeitamente para se ter noção da tendência que pretendo aqui dar conta. Pois bem, entre estas transferências, 14 pertencem ao FC Porto, seis ao Benfica e cinco ao Sporting. No top-10, sete são dos azuis e brancos, duas do Benfica e uma do Sporting.
Entre os muitos casos de sucesso temos a venda do brasileiro Anderson ao Manchester United (31.5 milhões), de Pepe ao Real Madrid (30 milhões), de Ricardo Carvalho ao Chelsea (30 milhões), de Ricardo Quaresma ao Inter de Milão (24.6 milhões) e de José Bosingwa ao Chelsea (20.5 milhões). O melhor negócio do Sporting foi a transferência de Nani para o Manchester United (25.5 milhões). Em relação ao Benfica, destaque para o acordo com o Atlético de Madrid, que ficou com Simão Sabrosa em 2007 por 20 milhões de euros.
Apesar da política de contratações do FC Porto também ter os seus momentos menos bons (todos se devem recordar de jogadores como Sebastián Prediger, Nelson Benítez, Iván Kaviedes e até Marc Janko), mas, na maioria dos casos, o emblema da cidade invicta distingue-se como o clube da Europa e do Mundo que melhor consegue comprar barato (normalmente no mercado sul-americano), adaptar esses jogadores à realidade do futebol europeu e vendê-los a preço caro, mas com um selo único de qualidade.
É com satisfação que vejo que o Benfica tem conseguido fazer isso com algum sucesso nos últimos três anos e, sinceramente, espero que esta tendência se alastre a outros clubes portugueses como o Sporting e o Sp. Braga. Mais do que o dinheiro que entra nos cofres dos emblemas que cada um de nós apoia, estes feitos engrandecem o futebol nacional e a Liga Zon Sagres.