Sou um fã assumido do ‘tiki-taka’ do Barcelona. Não tive, para meu infortúnio, oportunidade de me deliciar com todas as equipas que marcaram o mundo do futebol, mas pelo que observei em pouco mais de duas décadas de vida, os catalães são o expoente máximo da arte e engenho em praticar esta modalidade que tem o dom de mover multidões.
Seja como for, uma coisa é certa: de que vale uma posse de bola monstruosa, quando o objetivo primordial de vencer não é atingido? Foi isso que aconteceu no Celtic de Glasgow-Barcelona e quase acontecia no Barcelona-Celtic de Glasgow. Foi isso que o Chelsea provou nas meias-finais da última edição da Liga dos Campeões e foi isso que o Real Madrid mostrou claramente em pelo menos duas ocasiões desde que José Mourinho é o seu timoneiro.
Guardar a bola e manter a posse é a melhor forma de neutralizar a iniciativa atacante do adversário. No meu entendimento, isso é ponte assente. Por outras palavras, é defender com o esférico nos pés. Não há forma mais eficaz de o fazer, mas, como tudo, acarreta os seus riscos.
Lionel Messi, David Villa e Alexis Sanchez costumam ser os pêndulos de um trio atacante sem um número nove tradicional. Todos finalizam, todos criam espaços e todos realizam movimentos de rutura que costumam desfazer as defesas mais organizadas. Iniesta e Xavi são o coração e os pulmões dos anteriores e fazer passes a rasgar é a palavra de ordem, para os quais também contam Jordi Alba e Daniel Alves, laterais ultra-ofensivos. Busquets é o ponto de equilíbrio que auxilia a dupla Piqué-Puyol na manobra defensiva.
O problema é quando alguma coisa falha. Tal como uma pirâmide de cartas, o Barcelona é uma obra de arte harmoniosa. Mas quando um dos seus elementos desfalece, coloca-se em risco toda a estrutura. Foi isso que aconteceu no duplo-confronto com o Celtic de Glasgow. Mascherano e Bartra deram imenso espaço nas costas perante o jogo direto escocês, enquanto Alex Song foi uma sombra em termos defensivos do que costuma ser Sérgio Busquets. A este propósito, deixem-me partilhar que, para mim, o médio-defensivo espanhol sempre foi um dos elementos-chave do xadrez de Guardiola e Vilanova, apesar de muitos adeptos desvalorizarem injustamente o seu papel.
Depois, e o mérito tem que ser dado a quem o merece, o Celtic apresentou-se com um duplo bloco defensivo que já provou ser capaz de anular Lionel Messi e companhia. É muito complicado baralhar duas linhas de quatro jogadores, juntas e coesas. Quando o adversário é um muro intransponível, de nada valem as estatísticas arrasadoras de posse de bola e passes concluídos do Celtic-Barcelona (72%*) e do Barcelona-Celtic (74%*). Quando não se arrecadam os três pontos, de nada valem floreados, passes contínuos e tentativas de rutura. O golo continua e continuará a ser o objetivo fulcral da modalidade. Por muito que os catalães tentem embelezar a arte de o atingir.
Embora compreenda a intenção assumida do Barcelona em se constituir como uma instituição com identidade própria a nível de formação, modelo de jogo e política de contratações, é preciso um plano B. Uma equipa deste calibre tem que ganhar sempre e não se pode dar ao luxo de cair mais vezes no emaranhado de defesas e contra-ataques fugazes que várias equipas começam a apresentar. Ou isto, ou o esgotamento do modelo catalão. Como fã incondicional desta equipa, prefiro a primeira opção. Já dizia o outro: arroz todos os dias, não!
*Dados oficiais da UEFA.
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