Rui Barros, Augusto Inácio, Lima Pereira e Jaime Magalhães, antigos futebolistas do FC Porto, recordaram à Lusa o frio insuportável, os horários trocados e as provocações uruguaias até à conquista da Taça Intercontinental, feito que celebra 25 anos quinta-feira.
Os quatro foram titulares no jogo de 13 de dezembro de 1987, marcado por 120 minutos de muito sacrifício no relvado gelado do Estádio Nacional de Tóquio, que culminou com a consagração de “campeões do mundo”, como todos se afirmam desde então.
A vitória por 2-1 (com golos de Fernando Gomes e Rabah Madjer) assinalou o segundo êxito internacional dos “dragões”, que uns meses antes (a 27 de maio) venceram a Taça dos Campeões Europeus, em Viena.
“Foi quase um mês a treinar às oito da manhã, a almoçar às 10, de novo a treinar às cinco e a deitar às oito da noite para acordar às cinco da manhã”, recordou Augusto Inácio, referindo-se à metodologia implementada pelo técnico de então, o jugoslavo Tomislav Ivic.
Segundo o atual treinador de futebol, só o ambiente vivido entre as duas equipas, antes do jogo, é que foi “muito quente”.
“Começou durante o aquecimento, feito no interior do estádio, numa zona onde não havia nada a separar as duas equipas”, recordou, por comparação com o frio intenso: “Tremia tanto que nem conseguiu beber o chá quente que nos davam, pois caía do copo”.
Jaime Magalhães lembra-se que as provocações dos uruguaios até começaram no dia anterior: “Foi logo no hotel, o mesmo para as duas equipas, sobretudo durante as refeições, feitas lado a lado, apenas com uma floreira a dividir-nos. Eles passavam com ar intimidatório, típico dos jogadores latinos”.
Provocações à parte, Rui Barros recordou o pouco que se sabia do adversário: “Era uma equipa que ganhava muitos títulos, de um país com grandes jogadores, gente com uma entrega e um querer enormes”.
“Do tipo de jogo, não conhecíamos muito. Apenas um ou outro jogador, como o ponta-de-lança [Viera, o marcador do golo uruguaio]”, frisou o avançado, que cerca de três semanas antes (24 novembro) marcou o golo da vitória do FC Porto frente ao Ajax, na Holanda, na primeira mão da Supertaça Europeia.
A Taça Intercontinental marcou uma era, segundo Lima Pereira: “É inesquecível e foi, também, uma vitória importante para Portugal, um primeiro título mundial”.
No entanto, o jogo não foi bonito, como todos sublinharam e Augusto Inácio sintetizou: “Era pontapé para a frente e fé em Deus. Até uma bola furou. Não era possível jogar como gostávamos de jogar”.
Numa perspetiva mais pessoal, o então defesa esquerdo e internacional luso afirmou: “Independentemente do reconhecimento internacional do FC Porto, foi também um reconhecimento de que, afinal, os outros jogadores não eram melhores que nós. Felizmente, ficámos na história”.
“Não é todos os dias que se chega a uma final desta dimensão”, conclui, por sua vez, Lima Pereira, atualmente ligado ao departamento de prospeção dos portistas.
Rui Barros é da opinião que as vitórias em Tóquio e em Viena “quebraram a barreira para novas conquistas ao longo dos anos” e que “as vitórias de hoje têm muito a ver com as de há 25 anos”.