Manuel José destaca potencial mas retira Angola dos favoritos aos «quartos»

Ressalvando o seu desconhecimento da formação angolana atual, o antigo timoneiro dos “Palancas Negras”, entre 2009 e 2010, destacou a falta de um projeto global para o desenvolvimento do futebol no país, a começar pelos escalões de formação.

“Esse é o grande problema de Angola, porque ainda não fez um projeto sério para o futebol juvenil. Depois de tantos anos de grandes problemas, ainda há zonas de Angola onde é difícil as equipas se deslocarem para fazer campeonatos de juniores, juvenis ou iniciados, mas há que pensar nas possibilidades que o país tem para fazer esse projeto de formação, que é isso que Angola precisa”, afirmou Manuel José, em declarações à agência Lusa.

Para comprovar o potencial, o técnico recordou que alguns dos melhores jogadores portugueses nasceram em Angola.

“No passado, se olharmos para trás – que é uma coisa que eles não gostam e têm razões para isso –, no tempo do colonialismo alguns dos melhores jogadores que jogaram na seleção portuguesa e nos grandes clubes portugueses eram de Angola. Se antigamente Angola tinha essa faculdade de formar jogadores de grande qualidade, porque é que não tem agora?”, questionou.

Manuel José salienta que o país “tem uma coisa fundamental, como todos os países de África, que é a rua para os miúdos jogarem, portanto é só uma questão de organização, porque, sem dúvidas nenhumas, Angola pode ser uma potência do futebol africano”.

Depois da “figura do futebol mundial” Rivaldo, que segundo Manuel José serviu de “estímulo para os miúdos”, agora os avançados João Tomás e Meyong transferiram-se para clubes angolanos e, de acordo com o técnico, poderão ter praticamente o mesmo efeito.

“Nestes casos, não terão a dimensão futebolística, nem a fama, que o Rivaldo teve, mas são jogadores com um percurso muito interessante no campeonato português e pode servir para usarem da experiência, dos conhecimentos e do seu profissionalismo para transmitirem aos seus jogadores, assim como estimularem os garotos”, explicou.

Quanto às aspirações da seleção angolana no Grupo A da CAN2013, juntamente com Cabo Verde, Marrocos e África do Sul, Manuel José é claro.

“Acho que os dois favoritos a qualificarem-se são África do Sul e Marrocos. A África do Sul não é por ter uma grande equipa, mas joga em casa e, como se costuma dizer, em casa todos os santos ajudam. Marrocos teve uma qualificação difícil contra Moçambique, entrou num processo de renovação com jogadores novos e terá algumas aspirações, até a ganhar a CAN2013”, referiu Manuel José.

No entanto, o antigo treinador dos iranianos do Persepolis FC não tem dúvidas em apontar Costa do Marfim e Gana como os principais favoritos ao triunfo final, destacando ainda o potencial da seleção senegalesa.

“A Costa do Marfim e o Gana, mas principalmente a Costa do Marfim, são sempre candidatos. Já chegaram a finais e são equipas com jogadores de ‘top’, nos campeonatos europeus. Isso muitas vezes ajuda e outras vezes complica, porque normalmente esses jogadores não têm o mesmo comportamento físico e mental que têm na Europa”, referiu.

Manuel José considera que os melhores jogadores africanos estão “demasiado endeusados e, por vezes, comportam-se como primas donas”, recorrendo ao caso da seleção dos Camarões, que foi afastada por Cabo Verde.

A CAN2013 vai ser disputada por 16 seleções, entre sábado e 10 de fevereiro, na África do Sul.

O técnico acrescentou ainda que o seu percurso nos iranianos do Persepolis “está encerrado” e que, devido aos ordenados em atraso, o caso está entregue à FIFA, aguardando “tranquilamente” por “um clube de ‘top’ para poder treinar.