Intranquilidade, conflitos e escassos resultados. Eis algumas marcas da passagem de Rafael Benítez pelo comando do Chelsea. É certo que tudo indica que esta só acabará no final da temporada, mas a tarefa do espanhol à frente dos blues nunca pareceu mais do que uma missão impossível, facto que se concretizou esta semana, com o anúncio da saída.
Os antecedentes de Benítez em Inglaterra auguravam resistências entre os adeptos. O antigo treinador do Liverpool chegava para substituir um treinador campeão da Europa e alguém querido no difícil balneário da formação londrina. A aura de técnico temporário nunca deixou de ser omnipresente.
Comecemos pela contestação dos apoiantes do Chelsea. Esta era uma promessa e concretizou-se desde o primeiro minuto. Só por isto já seria uma jogada arriscada, quase uma irresponsabilidade de Roman Abramovich apostar em alguém controverso para tentar solucionar uma crise. Foi uma tentativa de apagar um fogo com combustível. Se os resultados eram maus, tudo indiciava que só poderiam piorar com mais um (grande) obstáculo na engrenagem dos londrinos. Os diferentes públicos da organização que é o Chelsea foram ignorados e o antagonismo agravou-se. Os blues dividiram-se numa altura em que precisavam de agrupar forças e vontades.
A escolha de Benítez denotou uma clara negligência do contexto e dos antecedentes próprios e únicos como factores inalienáveis no funcionamento de uma estrutura. Acreditou-se que era possível desenraizar o clube para um aqui e agora estanque de factores contínuos e externos. Daqui se extrai uma valiosa lição: o todo é muito mais do que a soma das partes, pelo que não vale a pena centrarmo-nos numa fracção se ignorarmos as outras dimensões e as consequências das interacções por elas estabelecidas.
Rafa Benítez também não facilitou o seu sucesso. Nunca lidou bem com a contestação e não conseguiu conquistar o balneário. A forma como anunciou a saída e as notícias de discussões com jogadores históricos como John Terry revelaram aquilo que podemos designar como falta de jogo de cintura. O técnico espanhol nunca chegou a perceber onde estava, não tendo um projecto perceptível para o seu reinado.
Esta incapacidade de adaptação é ainda mais surpreendente do ponto de vista da gestão da carreira. Depois de um início auspicioso no Valência, a carreira de Benítez teve altos (na Liga dos Campeões) e baixos (na Premier League) nas seis épocas à frente do Liverpool. O passo seguinte foi um falhanço tremendo no Inter de Milão que ainda era de José Mourinho. A aposta no Chelsea, tal como foi feita, constituiu-se como mais um dano na reputação do treinador.
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