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Mário Figueiredo: Presidente da Liga acusa tutela de o tentar aniquilar

O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Mário Figueiredo, acusou hoje a tutela governamental do Desporto de o tentar aniquilar e, em última instância, de afetar o organismo.

Mário Figueiredo: Presidente da Liga acusa tutela de o tentar aniquilar
Futebol 365

“Segundo o meu entendimento, sustentado em alguns factos e convicções, que vale o que vale, é de que há uma perspetiva, desde que coloquei em cima da mesa a questão dos direitos de transmissão televisiva, de tentar, primeiro, aniquilar o presidente da LPFP e, não conseguindo, aniquilar a LPFP. E mais uma vez centrando o futebol na panelinha em que todas as coisas se fazem nos bastidores, alimentando alguns e mantendo os clubes numa contenção financeira inadmissível”, afirmou.

Em entrevista à agência Lusa, Mário Figueiredo considerou que “nunca houve um Governo, ou uma tutela desportiva, que tivesse feito tão mal ao futebol profissional em Portugal, como a que está neste momento em vigor”, apontando como exemplo a exclusão dos jogos da I Liga dos eventos desportivos a merecerem transmissão em canal aberto.

“Os patrocinadores fugiram. Os clubes já são penalizados pelo pouco que recebem dos direitos de transmissão televisiva, mas havia alguma exposição mediática pela passagem semanalmente de um jogo, com uma equipa ‘grande’ e uma das outras, e isso veio tirar valor ao mercado dos patrocínios e à sua visibilidade”, referiu.

No entanto, Mário Figueiredo apontou outros casos de “incumprimento” da função governamental, como nos casos da segurança nos eventos desportivos.

“São poucos os que ultrapassam a barreira do que é aceitável e descambam na violência e esses estão identificados, mas é preciso avançar com esses processos e inibir essas pessoas de irem aos estádios. O que verificamos é que não tem sido feito nada sobre essa matéria”, afirmou, salientando que “tenta-se resolver o problema da maneira mais fácil que é pegar numa caneta e num papel e fazer uma lei”.

De acordo com Mário Figueiredo, as alterações legislativas imputam aos clubes “obrigações de Estado, que estão relacionadas com a punição de infratores ao nível desportivo ou até criminal”.

“Não é por enchermos um estádio de polícias que vamos resolver o problema, isso é um engano. Veja-se o que aconteceu em Inglaterra, onde houve sérios problemas nos anos 80 com o ‘hooliganismo’ e resolveu-se retirando dos estádios os ‘hooligans’”, sublinhou.

Recordando que a LPFP sempre defendeu o policiamento em jogos das competições profissionais, o presidente do organismo, que admitiu desconhecer em pormenor as recentes alterações legislativas, mas “cumprindo os rácios defendidos por lei”.

“O que aconteceu é que duplicou o valor da remuneração individual por polícia e, ao mesmo tempo, foi reduzido o rácio de polícias por espetadores, mas na prática o que se verifica é que continuam a ser enviados para os campos de futebol polícias em número exagerado em relação às necessidades de segurança”, reiterou.

Mário Figueiredo recordou ter alertado para a iminência de uma “desgraça” nos recintos de futebol, contestando a afirmação de que ''há segurança no desporto em Portugal'', feita pelo ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, durante uma visita a Moçambique, onde considerou ''uma situação pontual'' os incidentes registados no estádio do Sporting de Braga, aquando do jogo com o Paços de Ferreira.

“Por isso é que eu digo que a nossa tutela é a pior que existe nos últimos anos, porque perante o que se estava a anunciar (…) era de que, em período de crise, o estádio de futebol é um cenário típico para se criar uma onda de violência difícil de controlar. Realmente, é lamentável que alguém venha fazer propaganda, dizendo que nos campos de futebol está tudo bem e poucos dias depois se viu que não estava”, lembrou.

Na entrevista à Lusa, Mário Figueiredo abordou, ainda, os seguintes temas:

Taça da Liga: “LPFP ficou triplamente prejudicada”

Mário Figueiredo considera que a “LPFP ficou triplamente prejudicada” com o incumprimento da exploração comercial por parte da Olivedesportos, operadora da Taça da Liga de futebol.

“Quem tinha de encontrar um ‘naming sponsor’ era o operador. Não sei o que foi feito nessa matéria, sei que o operador no ano passado não pagou à LPFP 600 mil euros mais IVA da última prestação e a LPFP distribuiu aos clubes os valores respetivos. Este ano a LPFP ficou triplamente prejudicada porque não recebeu, pagou aos clubes e pagou o IVA de uma fatura que não recebeu”, afirmou.

O presidente da LPFP recordou que a Olivedesportos “resolveu o contrato”, que “era a base da competição”, obrigando a que o organismo tenha “feito um esforço” para assegurar os pagamentos aos clubes e anunciando a intenção de “pagar as verbas da terceira fase em abril”.

“Pugnamos pela sustentabilidade dos clubes e estamos a fazer um esforço hercúleo para poder suprir a falta de um patrocinador. Fizemos o que tínhamos de fazer, acionámos judicialmente, através do Tribunal Arbitral, a Olivedesportos e estamos a pedir uma indemnização de 2,4 milhões de euros (ME) desta época e o valor da próxima, que ronda os 2,5 ME”, explicou Mário Figueiredo, acrescentando que estas verbas serão “entregues como receitas aos clubes”.

Perante este cenário, o dirigente revelou que o formato da próxima edição da competição vai ser discutido na próxima Assembleia-Geral da LPFP, no início de abril.

“Fair-play” financeiro: “Problema do futebol não é de despesismo, é de receita”

O presidente da LPFP disse pretender que os clubes alcancem um equilíbrio financeiro, ressalvando que o “problema do futebol português não é de despesismo, mas sim de receita”.

“O futebol é a única atividade económica cujo primeiro objetivo não é dar lucro, mas sim ganhar um campeonato, uma Liga dos Campeões ou outra coisa qualquer”, referiu Mário Figueiredo, defendendo que os “clubes tenham as contas equilibradas” e vivam das suas receitas.

No entanto, o dirigente salvaguardou que é impossível que este “pacote de medidas” entre em vigor enquanto os clubes não garantam as receitas que merecem.

“Ao mesmo tempo que defendemos que deve haver mais receitas para os clubes, entendemos que quando isso acontecer têm de ter as contas equilibradas. Nós criámos um grupo de trabalho e temos um regulamento de licenciamento dos clubes praticamente concluído para adaptar internamente as regras de ‘fair-play’ da UEFA”

Mário Figueiredo alertou ainda para a existência de emblemas na II Liga que “vivem de projetos pessoais dos presidentes, que todos os anos alimentam os seus clubes para que se possam sustentar”.

“Não há nenhuma atividade económica que sobreviva com isto e, por isso, o que sustentamos é que a par com a abertura do mercado e a centralização dos direitos de transmissão na LPFP, apontando para volumes de receitas de 500 mil euros para os clubes da II Liga e da duplicação dos valores da I Liga, este regulamento permita o equilíbrio e sustentabilidade com as receitas”, concluiu.

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