A abstenção do Estado na assembleia de credores da SAD da União de Leiria foi decisiva na votação que hoje liquidou a sociedade, declarada insolvente em março deste ano, com dívidas reclamadas no valor de 16,84 milhões de euros.
No Tribunal de Leiria, 93,1 por cento dos credores habilitados a votar recusaram a continuidade da SAD, enquanto 6,9 por cento queriam que fosse apresentado um plano de recuperação.
O Estado, que reclamava uma dívida às Finanças de 3,624 milhões de euros, absteve-se, para surpresa do representante legal da SAD.
''Esperávamos que o Estado votasse favoravelmente para dar hipótese de se votar o plano. A indicação que tínhamos é que ia votar favoravelmente. Esta decisão surpreendeu-nos totalmente'', disse, no final da assembleia, o advogado Gonçalo Sampaio.
A liquidação da SAD faz com que o Estado, ''que tinha em dívida um montante substancial, abstendo-se, não vá receber um euro”, frisou o advogado da SAD leiriense.
Com o voto favorável do Estado, a União de Leiria SAD poderia ter avançado com o plano de recuperação proposto pelo administrador de insolvência.
Quinta-feira, a SAD anunciou ter um investidor - que não foi identificado - interessado em avançar o capital necessário para pagar às Finanças e à Segurança Social. Esta votou pela não liquidação da SAD.
Para o presidente da União Desportiva de Leiria, que integrava a SAD, este desfecho era previsível: ''Não me surpreendeu nada'', afirmou Mário Cruz no final.
''Agora vamos reunir com os sócios em assembleia geral e dar conhecimento desta decisão. Vamos ouvir os sócios sobre as decisões a tomar a partir daqui'', prometeu o dirigente.
Para o clube, que na época passada criou uma nova equipa para disputar os campeonatos distritais, a decisão de hoje pode significar a transferência dos direitos desportivos da União de Leiria SAD, que iria jogar na II divisão nacional.
''Presumimos que podemos aproveitar os direitos desportivos. Mas temos de esperar. Vamos começar a trabalhar para fazer com que o projeto da União Desportiva de Leiria possa ser mais sustentável a partir de hoje'', disse Mário Cruz.
Uma eventual subida de divisão pode beneficiar a União Desportiva de Leiria, também no que toca às dívidas fiscais.
Desde a criação da SAD, em 1999, que o clube tem uma dívida ao Estado que ronda o milhão de euros. Se subir aos campeonatos nacionais, o clube pode pagar através do Totonegócio.
''É uma janela de oportunidade para as contas do clube. Pode ser uma oportunidade importante para a nossa sustentabilidade'', sublinha Mário Cruz.
Hoje foi ainda formada uma comissão de credores que vai fiscalizar a liquidação do património da SAD. Segundo fonte do clube, o património atual resume-se ao autocarro da equipa e uma carrinha.
O apurado servirá para pagar as dívidas, tendo o Estado e Segurança prioridade sobre os restantes credores.