Na última quarta-feira ficámos a saber que o campeonato português não se encontra entre as 20 ligas nacionais que levam mais gente aos estádios. Pior ainda, a principal competição futebolística nacional atrai menos pessoas aos recintos do que as divisões secundárias de Inglaterra e da Alemanha.
Portugal, um país que se diz de futebol, que conta com três jornais diários quase exclusivamente dedicados a este desporto, que despende várias horas de programação das suas rádios e televisões na abordagem a esta modalidade, que tem como as suas únicas personalidades verdadeiramente mundiais um jogador e um treinador de futebol, vê-se ultrapassado no ranking de espetadores por nações como os Estados Unidos da América, Chipre, Áustria, Noruega ou Japão.
Na realidade, as bancadas vazias são um problema que já todos conhecemos desde há algum tempo. Muitos têm atribuído este flagelo a uma alegada ausência de cultura desportiva. Dentro deste argumento, os portugueses gostariam mais dos clubes – da filiação, emoção e debate que eles suscitam – do que do desporto-rei. Contudo, esta não será uma explicação verdadeiramente satisfatória.
Comparando os dados da notícia que o Futebol 365 veiculou na semana que agora acaba com a taxa de ocupação média dos três grandes – os clubes omnipresentes, para o bem e para o mal, no nosso quotidiano –, verificamos que o Benfica regista uma ocupação média de 66% da capacidade do seu estádio, o FC Porto fica-se pelos 63% e o Sporting não vai além dos 53%. Ora, os encarnados não entrariam sequer no top-10 da notícia, ficando logo abaixo da Bundesliga austríaca, no 12.º lugar. Já os dragões estariam ex-aequo com a Rússia e atrás da Bélgica, na posição 13. Por sua vez, os leões lutariam com o México pelo derradeiro lugar na hierarquia de 20 campeonatos apresentados. Nenhum dos outros clubes portugueses atinge um valor igual ou superior aos 50% no que concerne à taxa de ocupação média dos seus recintos.
Qualquer debate sobre a sustentabilidade do futebol português deveria começar por refletir sobre este cenário negro. Sem espetadores, o futebol não é vendável, pois aquilo que os clubes oferecem aos patrocinadores é, precisamente, a presença em massa de gente e a forte ligação que mantêm com os adeptos. E é aqui que entra a comunicação, a disciplina responsável pelo estabelecimento e manutenção das relações com os públicos, que trata do intangível.
Um clube não se pode limitar a acolher eventos desportivos de duas em duas semanas, num único dia e em apenas 90 minutos. Qualquer organização, incluindo as desportivas, deve fazer um esforço para existir continuamente, para fazer parte da vida das pessoas. Não basta oferecer passivamente um espetáculo: é preciso promovê-lo e explorar as suas dimensões complementares (o clube como um todo com complexo, com identidade). É preciso levar os clubes às pessoas, relembrando-as da forte ligação que outrora houve entre o futebol e as massas. Quando se fala da profissionalização dos clubes não basta impor uma gestão a tempo inteiro. É preciso existir (ser) a tempo inteiro.
PS: Os dados apresentados relativos aos clubes portugueses foram calculados com base no número total de espetadores por cada clube, dados estes que se encontram disponíveis no site da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Após termos calculado a média de espetadores de cada equipa, comparamos esses resultados com a capacidade de cada um dos 16 estádios que acolheram jogos do campeonato passado.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.