Apesar de terem terminado a última época com um recorde de 100 pontos e o título da Liga BBVA no bolso, os catalães parecem ter entrado numa fase de alguma apatia. Falo de apatia em termos organizacionais. Não corroboro as teorias que defendem, pura e simplesmente, um final de ciclo. Mas também já fui mais relutante em relação às mesmas. Como uma banda que chega ao topo e depois esmorece no seu próprio ‘hype’, o Barcelona poderá estar a desintegrar-se lentamente.
É a pergunta que assola a cabeça de quase todos os adeptos de futebol: Tata Martino? Após a saída inesperada de Tito Vilanova, isto depois de alguns meses de competição em que a equipa foi entregue a Jordi Roura, o Barcelona optou por um treinador argentino, que se estreará nas exigentes competições europeias, logo ao comando de um Fórmula 1. Muitos defendem que a admiração do ex-técnico do Newell’s Old Boys por Lionel Messi poderá ter estado por detrás da escolha. Contudo, de certeza que o presidente Sandro Rosell não corroborará tal explicação. Não pode. Nenhum treinador pode ser escolhido por admirar um único membro de um enorme e reputado plantel.
Além de correr o risco de criar anticorpos numa equipa que vive muito de Lionel Messi, mas não é apenas Lionel Messi, o Barcelona quebrou uma sequência de treinadores umbilicalmente ligados à cultura de jogo criada em Camp Nou: o controlo de todos os momentos de uma partida através da posse constante do esférico. Frank Rijkaard (2003-08), Pep Guardiola (2008-12) e Tito Vilanova (2012-13). Quando se esperava a continuidade com Luís Enrique, optou-se por Tata Martino. Um homem que já triunfou no comando do Newell’s Old Boys, Cerro Porteño e Libertad, mas com uma única passagem pela realidade do futebol europeu, ainda como jogador profissional: Tenerife (1991).
Mas os tiros nos pés não ficam por aqui. Somando à aposta inesperada em Tata Martino, um treinador que terá muito a provar ao desconfiado Velho Continente, o Barcelona decidiu vender Thiago Alcântara ao Bayern Munique, equipa de Pep Guardiola. Além de poder dar mais força à ideia de que o plantel blaugrana está a perder consistência desde a saída de Pep, esta transferência colocará nas mãos da equipa que dominou a Europa em 2012-13 um dos melhores médios criadores da sua faixa etária: receção de outro mundo, visão de jogo muitíssimo acima da média e uma qualidade técnica de deixar água na boca. Não fosse isto e o Barcelona até poderia negociar Cesc Fàbregas com mais tranquilidade, mas agora limita-se a protegê-lo com todas as forças, pois a sua saída colocará os catalães com um miolo muito desprotegido.
No meio desta perda gradual de identidade e organização, as vozes dissonantes de alguns elementos como Johan Cruyff, que não apoia a contratação de Neymar. Mais do que um possível choque com Lionel Messi (que até nem deverá acontecer), questiono o valor demasiado elevado do negócio (54 milhões de euros). Mais algumas dezenas de milhões para um mercado brasileiro demasiado inflacionado. Se tivermos em conta que David Villa foi despachado por cinco milhões de euros para o Atlético de Madrid, ficamos com uma certeza: o Barcelona está a perder coesão e identidade. Urgem-se esforços para o império não cair definitivamente.
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