O selecionador de futebol do Brasil confessou hoje que foi ele «quem mais sentiu» a derrota de Portugal na final do Euro2004 com a Grécia e que se irá lembrar dela o resto da sua vida.
“Tal como todos os portugueses não esperava perder essa final para a Grécia, mas ninguém sentiu essa derrota como eu e serei aquele que irá lembrar-se sempre dela”, disse Luiz Filipe Scolari durante a apresentação do livro “A bola ao ritmo do fado e do samba”, no Museu Nacional do Desporto.
O ex-selecionador de Portugal lembrou que tinha sido campeão do Mundo pelo Brasil em 2002 e que teve uma oportunidade única de ser campeão europeu: “Nunca ninguém tinha conseguido isso no futebol, seria o único. Perdi, mas a vida seguiu”.
Outro episódio marcante da passagem de Scolari pela seleção portuguesa foi a inédita e extraordinária mobilização coletiva que conseguiu gerar em torno da seleção, que levou milhões de portugueses a comprarem a bandeira nacional e a pendurarem nas varandas e janelas por todo o país.
No entanto, Scolari revelou que o mentor da ideia não foi ele: “Uma dia estava eu com Gilberto Madaíl [anterior presidente da FPF] e vimos passar uma senhora de idade com a bandeira portuguesa na mão. Eu virei-me para o presidente e disse-lhe ‘veja o exemplo lindo dessa senhora com a bandeira”. Ele respondeu-me: ‘peço-lhe que faça isso, que convoque esse povo em torno da bandeira e da seleção. Foi ele que me passou a ideia das bandeiras nas janelas, mas sinto-me feliz por ter participado nisso”.
Outra história cujos contornos tornou públicos foi a da convocatória de Deco para a seleção, que tanta celeuma levantou à altura, nomeadamente pela reação de dois jogadores carismáticos da seleção, Luís Figo e Rui Costa. E também envolveu o então presidente da FPF.
“Gilberto Madaíl perguntou-me em conversa se gostaria de contar com Deco na seleção, porque a havia a possibilidade dele integrar a seleção portuguesa”, contou Scolari, que respondeu afirmativamente por entender que a chamada do luso-brasileiro “não iria criar problemas entre os jogadores portugueses”.
O processo de naturalização foi por diante e Scolari decidiu convocar Deco, “porque não havia qualquer empecilho legal” e porque se tratava de “um grande jogador, um dos melhores de sempre” com quem trabalhou.
A estreia de Deco foi justamente frente ao Brasil, no antigo estádio das Antas, que terminou com a vitória de Portugal por 1-0, graças a um golo do luso-brasileiro na execução de um livre, a bater o guarda-redes Marcos, com quem Scolari abordou o assunto tempos mais tarde.
“Ele disse-me que tinha colaborado na estreia de Deco por Portugal, ao sofrer aquele golo, em que a barreira também abriu”, contou Scolari, que “não vê qualquer problema” em que uma seleção recorra a jogadores não nascidos nesse país, “desde que a lei o permita”.
As declarações de Scolari foram proferidas durante a apresentação do livro “A bola ao ritmo do fado e do samba”, no qual se oferece uma visão do futebol português e brasileiro, se fala do clube Vasco da Gama e da sua criação portuguesa, do futebol em tempo de ditadura em Portugal, com Salazar, e no Brasil, com Getúlio Vargas, de Pelé, de Eusébio e de Scolari.