Sindicalistas e militantes dos direitos do Homem disputaram hoje, em Bruxelas, um jogo de futebol simbólico para denunciar «a escravidão» nas obras de construção das infraestruturas para o Mundial de futebol de 2022, no Qatar.
À frente do estádio do Rei Balduíno, os participantes trocaram algumas bolas com cuidado de forma a não bater nos “operários do Qatar”, de fato de trabalho azul e capacete na cabeça, acampados dentro de uma bola insuflável.
“O futebol deve poder conjugar-se com os direitos sociais, senão, não vale a pena jogar”, afirmou Claude Rolin, do sindicato belga da Confederação Sindical.
Os organizadores da ação vão entregar aos responsáveis da Federação Belga de Futebol as camisolas onde se pode ler o slogan “Não joguem com os direitos dos trabalhadores”.
A preparação do Mundial de 2022 agravou a situação de cerca de dois milhões de emigrantes, sobretudo da Ásia, no “Estado esclavagista do Qatar”, sublinhou à agência de notícias francesa AFP Sarah Burrow, dirigente da Confederação Internacional dos Sindicatos (CSI-ITUC), que representa os sindicatos de 165 países.
Acusando a FIFA de “fazer pressão” sobre o governo do Qatar para ainda limitar os direitos sociais, a Confederação exige que a instância que dirige o futebol internacional tenha em conta o respeito dos direitos dos trabalhadores no Mundial de 2022.
“As empresas belgas, francesas, alemãs ou suíças devem fazer o mesmo, porque a sua reputação está em jogo”, afirmou Burrow.
Sexta-feira, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, questionou as condições laborais nas obras das infraestruturas para o Mundial de Futebol de 2022 no Qatar, alertando que o organismo não pode ignorar os direitos laborais.
''A FIFA não pode intrometer-se no direito de trabalho de um país, mas não pode ignorá-lo'', advertiu o presidente da FIFA num comentário no Twitter, depois de o comité executivo do organismo ter começado a debater as acusações de esclavagismo que atingem o Qatar, organizador do Mundial de futebol de 2022.
As acusações surgiram na sequência de uma investigação realizada pelo diário britânico The Guardian, que aponta para a morte de dezenas de trabalhadores nepaleses nas últimas semanas nas obras do Qatar. O jornal noticia mesmo que 22 trabalhadores imigrantes do Nepal morreram entre 04 de junho e 08 de agosto, citando documentos da embaixada daquele país em Doha.
Na sequência da polémica atribuição da organização do Mundial àquele emirado rico em petróleo, Joseph Blatter deixou claro, após a reunião do comité executivo, que ''o campeonato de mundo vai jogar-se mesmo no Qatar''.
O presidente da FIFA anunciou que fará brevemente uma ''visita de cortesia'' ao emirado, no decorrer da qual se encontrará com o novo emir, o xeque Tamim Ben Hamad Al-Thani, para lhe dar conhecimento das decisões do comité executivo.