Europeu 2008: Adeptos madrugadores esperam bilhetes para jogo de sábado

A bilheteira da Associação de Futebol de Viseu (AFV) só abre às 14:00, mas a notícia de que só estarão disponíveis para venda pouco mais de 2.800 bilhetes levou a que a fila começasse a ser formada cerca das 06:00.

Sem conseguirem ter visto qualquer treino da selecção portuguesa em terras de Viriato, os dois jovens não quiseram deixar escapar a derradeira oportunidade para ver no relvado os eleitos de Scolari.

“A minha namorada andou toda a semana a tentar arranjar bilhetes para os treinos, mas não conseguiu. Como já sabia que hoje ia haver confusão, ontem liguei ao Rui a dizer ‘vamos cedo, senão…’”, contou Toni Leitão.

Rui tirou folga para poder estar em Viseu, enquanto Toni fez um “negócio” com a namorada: “Ela ficou a trabalhar na papelaria que tenho e eu pago-lhe o bilhete”.

Logo atrás dos dois jovens, sentados nuns bancos, estavam António e Eulália Alves, ele com 64 anos e ela com 65, de Viseu, que fizeram o sacrifício de se levantarem de madrugada para fazer um favor a familiares de Castelo Branco.

“Eles pediram-nos tanto para lhes comprarmos os bilhetes que estamos aqui a fazer este esforço”, contou Eulália, tendo na mão o saco com o pequeno-almoço que o filho lhes foi levar, dado que chegaram à AFV às 06:45.

Como cada pessoa só poderá comprar dois bilhetes, António e Eulália não terão oportunidade de adquirir para si próprios, uma vez que a “encomenda” albicastrense já contempla um casal com dois filhos.

Prevenida com um banco e com a biografia “Não sou o único”, de Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés, estava Catarina Rodrigues, de Viseu.

A jovem de 28 anos chegou à fila cerca das 09:00, porque “já suspeitava que ia encontrar bastante gente”, atendendo ao apoio que os viseenses têm demonstrado para com a selecção das “quinas”.

No entanto, Catarina Rodrigues considera-se uma “sortuda”, uma vez que conseguiu assistir ao treino na passada quarta-feira, porque o namorado “está no Instituto Piaget e ofereceram-lhe um bilhete”.

Disse concordar com a decisão da AFV de cada pessoa apenas poder comprar dois bilhetes, porque “tem de haver um critério”.

“Senão, eu chegava aqui às 09:00 e até poderia já nem ter bilhete”, frisou.

Menos compreensivo com a organização do estágio da selecção portuguesa em Viseu estava Belarmino Figueiredo, de 65 anos, situado já depois dos primeiros cem da fila.

“Cheguei pouco depois das 10:00, mas agora vou ter de estar aqui até às duas horas para comprar o bilhete. Isto faz algum sentido, só haver três mil bilhetes para o jogo?”, questionou, indignado.

Belarmino Figueiredo, que durante 23 anos foi árbitro de futebol na Alemanha, considera que “o apoio que Viseu está a dar à selecção é magnífico, só que a organização não está a corresponder a 100 por cento”.

O presidente da AFV, José Alberto Ferreira, explicou à Lusa que a Federação Portuguesa de Futebol só disponibilizou cerca de quatro mil bilhetes.

“Tal como a Federação, tivemos que satisfazer alguns compromissos com entidades, clubes e Câmaras Municipais, com quem mantemos relações estreitas e só conseguimos pôr à venda pouco mais de 2.800”, justificou.

O estádio do Fontelo tem 8.387 lugares, sendo “demasiadamente grande durante toda a época, mas muitíssimo pequeno na altura em que recebe a selecção”, frisou o dirigente.

Para animar os presentes, José Carlos Ferreira, dono de uma famosa confeitaria de Viseu, que até fez estátuas de Scolari e Cristiano Ronaldo em massa de pão, deslocou-se à AFV com caixas de viriatos, croissants, lancheiras e bebidas para matar a fome aos mais madrugadores.

“Pela forma como têm apoiado a selecção e por estarem aqui desde madrugada, estas pessoas merecem tudo”, sublinhou.

A selecção portuguesa defronta sábado a sua congénere da Geórgia, no último jogo em Portugal e penúltimo de preparação para o Euro2008, a ser organizado conjuntamente pela Áustria e pela Suíça.

A formação das ''quinas'' ficou integrada no grupo A da competição, juntamente coma selecção helvética, a República Checa e Turquia.