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FC Porto: O problema de se chamar Daniel

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: O problema de se chamar Daniel
Depositphotos

Diz Rúben Amorim que Daniel Bragança é provavelmente o jogador mais injustiçado da equipa do Sporting. É claro que estas coisas são mesmo assim: os interesses da equipa sobrepõem-se a tudo o resto e, valha a verdade, jogador profissional é pago para aceitar este tipo de situações. Seja como for, o paralelo pode ser feito: no FC Porto, quem é o elemento que deveria ter mais minutos e não tem? Danny Namaso.

É que os jogadores podem sair da equipa por diferentes razões. Ou por contínua falta de rendimento; ou por questões táticas relacionadas com as dinâmicas do adversário; ou porque é necessário calibrar/afinar a equipa e estabelecerem-se novos modelos e nuances no desenho de jogo. Ou então por infortúnio – castigo ou lesão. No caso de Namaso, foi por uma bigorna razão chamada Samu.

O facto de se chamar Daniel ou apenas uma coincidência. Uma graça. No caso de Namaso, a melhor explicação que se pode encontrar remonta à 5ª jornada, quando os dragões bateram o Farense por 2-1. Uma primeira parte de arromba e repleta de oportunidades de golo, muito por culpa da capacidade de posse, jogo entrelinhas e recuos estratégicos de Namaso que, a um ou dois toques, soube capitalizar a equipa mais para a frente, colorindo a ação dos médios em zonas mais dianteiras e onde só um fabuloso Ricardo Velho adiou uma expectável e grotesca vitória.

Há verdades inquestionáveis: para os excecionalmente bons há sempre lugar. Ponto. E Namaso saiu da equipa porque, efetivamente, chegou Samu Omorodion, que é um avançado de dimensão planetária. Ou, por outras palavras, se Samú não tivesse chegado muito provavelmente o avançado titular ainda seria Namaso. Cujas valências foram aprimoradas ao longo da temporada passada – jogo da Supertaça diante do Tondela por exemplo – e que hoje são rentabilizadas em prol da equipa e nunca esquecendo a sua excelente relação com o golo. Sim, Namaso é um bom concretizador.

Aliás, não foi por acaso que Vítor Bruno, percebendo o carácter inevitável da situação, logo defendeu o avançado após o tal jogo diante do Farense. E o recuperou diante do AFS assente na fundamental premissa do equilíbrio: depois do Hoffenheim, era necessário continuar a não sofrer golos (mãe de todas as prioridades) mas, por outro lado, era necessário retirar a equipa de uma espécie de casulo de hesitação na altura de atacar. No fundo, um jogador como Namaso é capaz de fazer a ponte entre todos, tornando a equipa mais robusta em todos os seus domínios.

Há outra questão que pode e deve ser colocada em cima da mesa: será que Samu e Namaso não podem jogar ao mesmo tempo, e leia-se “ao mesmo tempo” num contexto regular e sem ser de estado de emergência? Sim, podem. É claro que para entrar Namaso alguém tem de sair e, no caso do jogo diante do AFS, a retirada de Galeno e adjacente aposta clara na dinâmica do flanco direito acabou por resultar em cheio. Mas também é credível afirmar-se que as características de Galeno não são propriamente fáceis de encontrar, o que naturalmente configura uma excelente dor de cabeça para Vìtor Bruno.

O jogo frente ao Moreirense a contar para a Taça da Liga, apesar de algo sensaborão, pastelão e de desfecho quase inevitável, trouxe a evidência da importância de Namaso até para desmembrar jogos tidos como mais previsíveis. E mesmo pela leitura do contexto: não que o FC Porto possa construir ou edificar os seus objetivos de temporada tendo em conta a conquista da Taça da Liga mas uma eventual eliminação poderia significar um escusadíssimo tiro no porta-aviões. Um Bodo/Glimt em formato XXL. Uma tónica negativa dentro do segmento de uma equipa em construção e que tem obtido uma esfera de bons resultados que podem alavancar o espírito para o substrato da temporada.

É também inequívoco que o FC Porto não pode definir a sua temporada tendo em conta o que possa acontecer nos seus rivais. No entanto, a previsível saída de Rúben Amorim para o United representa uma tremenda ajuda dentro do quadro de que o percurso e a perspicácia de Amorim eram a maior e mais poderosa arma dos leões. Ou seja, a hercúlea tarefa de se prosseguir com o legado esbate-se naturalmente num rival que passa a ter o caminho mais facilitado e que, no caso, até se apresenta agora como o mais forte candidato ao título. FC Porto.

É que de Inglaterra ou vem vento ou vem casamento. A atual temporada do FC Porto ficará para sempre ligada a um Manchester United que, vindo de longe, provou ser o amigo desconhecido que afinal era o grande amigalhaço das alturas mais difíceis. Se o jogo da Liga Europa demonstrou que os dragões tinham mesmo de se resguardar defensivamente sob pena de entrarem num processo de desequilíbrio coletivo, é o mesmo United quem dá uma ajuda ao namorar e casar com o técnico leonino. É certo que, no reino do Dragão, o vermelho é a cor a evitar. Mas, este ano, se calhar pode abrir-se uma exceção. O vermelho Manchester até pode combinar bem com o eventual azul título.

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