Quando na noite de hoje subir ao palco do Pod Pretekstem, de Poznan, João de Sousa, que assegurou que Portugal iria dar a volta no Euro2012 de futebol, terá a certeza de que o fado da seleção começou a mudar.
Horas antes, depois de, por culpa das rudimentares estradas polacas, ter falhado o apito inicial e ter chegado atrasado, mas mesmo a tempo do golo de Pepe, o fadista do fado polaco disse à agência Lusa que este era o momento de reverter o “fado” de sofrimento da equipa das “quinas”.
“Eu acho que Portugal tem de dar a volta a esse fado, cantá-lo, mas não sofrer, não tanto”, argumentou. E a seleção fez-lhe a vontade, não sem antes sofrer para vencer a Dinamarca por 3-2.
Há mais de sete anos, o português apaixonou-se por uma polaca e mudou-se de armas e bagagens para a Polónia, depois de ter experimentado viver em Londres e Barcelona. Sete anos depois, casado e pai de uma filha de cinco meses, movimenta-se com desenvoltura no dia-a-dia polaco, tem já um ligeiro sotaque e fala a língua estrangeira como um local.
“Na altura parecia-me algo interessante vir para a Polónia. Era um país exótico, queria aprender a língua”, recordou o emigrante luso em terras polacas, que viu o fado surgir na sua vida através da poesia.
Apaixonado pela música portuguesa em geral e, especificamente, pela música tradicional, onde se inclui o fado, João de Sousa, que começou a sua trajetória musical “com 15, 16 anos”, tocando em bandas de covers e em grupos em que era o “compositor” de serviço, deixou-se seduzir pelo fado polaco.
A escolha justifica-a facilmente: “é aquilo que sinto que, neste momento, tenho de mostrar ao público que já tenho aqui na Polónia. São as minhas raízes e também acho que é um momento importante para promover a cultura portuguesa.
Mas, o que é afinal o fado polaco? “O fado polaco faz parte do meu fado, do meu destino polaco. Nunca na minha vida iria imaginar que ia estar a tocar na Polónia, a viver na Polónia sequer e a falar esta língua. É um fado tocado com polacos. O facto de eu tocar com polacos altera um bocado a música e dá-lhe uma visão diferente”, explicou à Lusa.
Num país onde mesmo o inglês é uma língua estranha à maioria, o fadista conseguiu conquistar um público fiel que lhe permite viver praticamente só da música – “como na vida de qualquer freelancer, há meses melhores e meses piores” -, atividade que alia à de professor de português numa escola de línguas da sua cidade, Wroclaw.
“Os polacos recebem muito bem o fado. Apesar de não entenderem as letras e a poesia, entendem a mensagem emocional que se quer passar através desta música tao misteriosa e mágica”, contou.
“Felizmente”, desde que deu início ao projeto e, apesar do disco só estar agendado para setembro, João de Sousa tem tido muitas propostas.
“Voltamos aos mesmos sítios. As pessoas primeiro têm curiosidade, depois gostam e convidam outra vez”, confidenciou pouco antes do ensaio de som no Pod Pretekstem.
Com a televisão do espaço musical sintonizada no Portugal-Dinamarca, os olhos do português fugiram para o ecrã quando foi indagado sobre o sentimento que lhe provocada ver a equipa das “quinas” em solo polaco.
É especial ver qualquer coisa que seja ligada a Portugal aqui na Polónia. Seja o futebol, seja a música, seja a comida. Agora que, obviamente, quando existe esta atmosfera de futebol aqui na Polónia, sinto-me um bocado como em casa”, assumiu.
Com o Euro2012 presente a cada esquina, as memórias de João de Sousa vão para imagens típicas do seu país.
“Lembro-me do Euro2004 e lembro-me das jornadas, dos sábados e domingos, com as pessoas nos cafés a comentarem, coisa que aqui não existe tanto. Por causa do Euro2012, esse hábito está a vir para cá”. E o português não podia estar mais contente.