Desde que José Mourinho chegou ao Santiago Bernabéu, no verão de 2010, que tem sido vítima da dupla face dos adeptos do Real Madrid. Quando vence, ‘El Especial’ parece ser o melhor treinador do universo; quando perde, chovem críticas de todos os lados. Começando na imprensa e terminando no adepto comum. Pensei que os portugueses é que viviam numa roda-viva entre o oito e o oitenta, mas agora que reflito acerca do percurso de Mourinho em Madrid posso finalmente concluir que, nesse aspecto, os espanhóis são muito piores que nós.
Para mim, José Mourinho não é um treinador perfeito. Gostava muito de ser como grande parte dos portugueses e venerar o ‘Special One’ da cabeça aos pés, mas, de qualquer forma, não posso deixar de classificar como um enorme acto de ingratidão todo o alarido em torno da equipa merengue.
É certo que o arranque do Real Madrid na Liga BBVA deixou muito a desejar. Perder oito pontos em quatro jornadas para o Barcelona é inaceitável. E não tenho dúvidas nenhumas de que, se os merengues não vencerem dia sete de Outubro em Camp Nou, bem que poderão começar a pensar exclusivamente na Liga dos Campeões. Mesmo assim, o que seria do clube da capital espanhola sem Mourinho? Para quem tem memória curta, aqui fica a lembrança.
‘El Especial’ chegou ao Real Madrid em 2010, numa altura em que o Barcelona era bicampeão da Liga BBVA e dominava por completo o futebol mundial. Na primeira época, os blancos não foram capazes de evitar o tricampeonato dos catalães, mas levaram a Taça do Rei. Ainda era clara a superioridade de uma formação sobre a outra (e, na minha opinião, esta ainda existe), mas ficou o primeiro título. Antes da chegada de Mourinho, o clube com mais Ligas dos Campeões no currículo não passava nos oitavos de final da prova há alguns anos. Em 2011, os merengues apenas caíram nas meias-finais… frente ao Barcelona. Mais ficou o registo.
Na segunda época, Mourinho prometeu mais e melhor no Real Madrid e conseguiu-o. Começou por perder a Supertaça de Espanha para os suspeitos do costume, mas não perdoou no campeonato, vencendo-o com 100 pontos (mais nove que o Barcelona!) e fazendo História. Na Champions, mais uma vez ficaram pelas meias-finais, desta feita eliminados pelo Bayern Munique. Já neste ano desportivo, o Real venceu a Supertaça de Espanha e o treinador português arrecadou todos os troféus internos que alguma vez poderá vencer no país de ‘nuestros hermanos’.
Analisando estes dados, só posso concluir que os adeptos merengues estão a ser demasiados precipitados. Ou então ingratos. Alguém se lembra do que era o Real Madrid antes da chegada de José Mourinho? Eu recordo: um aglomerado de estrelas e de egos do tamanho do mundo. Era mais importante vender camisolas do que ganhar títulos e o outrora poderoso clube espanhol não era mais temido na Europa. Lembram-se das constantes eliminações com o Lyon na Liga dos Campeões?
Então vamos com calma. Nem oito nem oitenta. O Real Madrid tem seguido o seu caminho com passos bem dados e exemplarmente liderado por José Mourinho. Talvez nunca atinja o poderio do Barcelona (os catalães são, para mim, a melhor equipa de todos os tempos), mas já conseguiram colocar Pep Guardiola e Tito Vilanova em sentido. E isso, vale o que vale. A atitude de Mourinho não é a melhor em diversas ocasiões? Claro que não! O ‘Special One’ tem o dom de criar conflitos? Claro que tem! Enerva muito boa gente do futebol mundial? Claro que enerva! Mas uma coisa é a sua personalidade, outra coisa completamente distinta são os seus resultados práticos. E aí, tenho dúvidas que haja alguém melhor que Mourinho. Um conselho aos adeptos do Real Madrid: estimem o português!