A direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu hoje, após avaliação sobre o desempenho no Mundial2014, afastar a equipa médica liderada por Henrique Jones, a única a sofrer consequências pelo que se passou no Brasil.
O presidente Fernando Gomes justificou o péssimo desempenho da seleção no Brasil por incompetência – “não fomos competentes” –, mas não identificou as causas, apenas revelou uma consequência, que foi o afastamento da equipa médica.
Para o presidente federativo, Portugal “não cumpriu o objetivo mínimo exigível”, mas não foi por causa da escolha do estágio nos Estados Unidos nem tão pouco da cidade brasileira, Campinas, onde ficou sedeada a seleção nacional.
“Aquilo que a direção e a equipa técnica nacional acreditam é que nem o estágio e os dois jogos nos Estados Unidos, nem a cidade em que nos baseámos no Brasil determinaram o mau resultado desportivo”, disse Fernando Gomes, sem, todavia, explicar o que verdadeiramente determinou esse mau resultado.
O responsável pela equipa médica da seleção lusa, Henrique Jones, agora afastado, justificou durante o Mundial2014 o elevado número de lesões com a “sobrecarga competitiva” e com o “elevado índice de suspeição lesional”, que foi “superior a anos anteriores”.
“O passado lesional e a idade podem levar a maior frequência de lesões”, explicou então Henrique Jones, esclarecendo que estavam nestas condições “um quinto dos 23 atletas” selecionados por Paulo Bento, cujas responsabilidades não foram afloradas por Fernando Gomes.
De resto, o presidente federativo deu um pulo ao passar diretamente para as medidas que a sua direção decidiu tomar em três áreas de intervenção, que considerou “estruturantes e transversais”, que são as áreas técnica, clínica e regulamentar.
Na área técnica, a direção federativa criou o Gabinete Coordenador Técnico Nacional, que será liderado pelo selecionador Paulo Bento, e integrará os treinadores dos escalões de formação da FPF, Ilídio Vale e Rui Jorge.
“Será por estes três treinadores que passará todo o processo de decisão em matéria de treino e interação de seleções nacionais. São três pessoas competentes, identificadas com o processo e a visão de longo prazo da FPF e em quem acreditamos para promover, ainda mais, os resultados desportivos das nossas seleções”, disse Fernando Gomes.
Na área clínica, foi criada uma unidade de saúde e performance que “sirva as seleções nacionais e as práticas de prevenção, avaliação e recuperação de atletas” e que passará a ter como diretor, a partir de 02 de setembro, José Carlos Noronha.
Fernando Gomes qualificou-o como “um dos médicos mais reconhecidos nacional e internacionalmente pela competência e conhecimento” e a quem recorrem “dezenas e dezenas de atletas de todo o Mundo”.
Em articulação direta com José Carlos Noronha irá estar um médico coordenador, Paulo Beckert, atual presidente do Colégio de Especialidade de Medicina Desportiva da Ordem dos Médicos, que será também médico de banco de várias seleções nacionais, alguém que “vem da área de especialidade da medicina física e reabilitação”.
A complementar esta equipa está João Brito, doutorado em Ciências do Desporto, que exerce no “Orthopaedic and Sports Medicine Hospital”, no Qatar, e que é também instrutor de cursos de treinador de futebol, nomeadamente no UEFA Pro e UEFA Advanced.
“Entendemos que a prevenção de lesões e recuperação de atletas é absolutamente fundamental, razão pela qual decidimos trabalhar de forma transversal a área de fisiologia. Para essa tarefa escolhemos o professor João Brito”, revelou Fernando Gomes.
Finalmente, na componente regulamentar, a direção da FPF decidiu propor no próximo fórum do futebol “um aumento do número de atletas formados localmente nos clubes participantes no campeonato nacional de seniores em modelo e faseamento a discutir com todas as associações distritais”.
O objetivo é “a proteção dos atletas nacionais” com arranque efetivo já na próxima época desportiva, sendo que existem limites na intervenção da FPF, como reconheceu o próprio Fernando Gomes.
“O grupo de trabalho que o Governo formou em 2012 já produziu o seu relatório e existem propostas que merecem intervenção estatal e até de natureza comunitária”, referiu o presidente da FPF, que promete manter o diálogo com o secretário de Estado do Desporto para criar uma linha de proteção de jovens atletas nacionais.