A seleção portuguesa de futebol encerrou na segunda-feira uma época atribulada, em que se fragilizou na corrida ao Mundial de 2014 e igualou uma série negativa com quase sete anos, ao ficar cinco jogos consecutivos sem ganhar.
O triunfo por 1-0 sobre a Croácia, no particular realizado em Genebra, três dias depois de se ter imposto na receção à Rússia, pelo mesmo resultado, e ganhado novo ânimo rumo à fase final do Campeonato do Mundo, permitiu fechar da melhor uma temporada com muitas oscilações, mas que termina com um saldo positivo de seis vitórias, três empates e duas derrotas e 19-11 nos golos.
O balanço nos jogos oficiais é menos favorável e antes do encontro com a Rússia a equipa lusa contava por triunfos apenas metade dos seis jogos que tinha disputado no Grupo F europeu de qualificação e estava em igualdade pontual com Israel, entretanto desfeita graças ao golo solitário do avançado Hélder Postiga, melhor marcador da seleção em 2012/2013, com seis golos, cinco dos quais na fase de qualificação para o Mundial.
A Rússia esteve também ligada ao pior período de Portugal: foi precisamente uma derrota por 1-0 sofrida em Moscovo, a 12 de outubro de 2012, que marcou o início de um período negro para a equipa orientada pelo selecionador Paulo Bento, durante o qual averbou mais uma derrota e três empates, dois dos quais no apuramento para o Mundial, permitindo aos russos ganhar uma vantagem que dificilmente deixarão escapar.
O triunfo na receção à seleção russa, no Estádio da Luz, proporcionou à equipa lusa um importante balão de oxigénio, se não na discussão da vitória no agrupamento - que Portugal até lidera, com mais dois pontos do que a herdeira da URSS, mas mais dois jogos realizados -, pelo menos na luta com Israel pelo precioso segundo, que deverá valer o acesso ao “play-off” de apuramento para a fase final, no Brasil.
A época arrancou ainda em período de férias para muitas pessoas, em pleno mês de agosto, com a vitória “natural” sobre o Panamá, por 2-0, com tentos de Nélson Oliveira, que se estreou a marcar na primeira vez que foi titular, e de Cristiano Ronaldo, que nem sempre foi o jogador desequilibrador que costuma ser no Real Madrid.
A campanha de apuramento para o Mundial começou a 07 de setembro de 2012 com uma vitória sofrida no Luxemburgo, por 2-1, num jogo perante uma das mais frágeis seleções europeias, em que em que se encontrou a perder aos 13 minutos, na sequência do golo marcado por Daniel Da Mota, mas deu a volta graças aos remates certeiros de Ronaldo, aos 28, e Postiga, aos 54.
O triunfo por 3-0 na receção ao Azerbaijão, quatro dias mais tarde, pareceu colocar a seleção em velocidade de cruzeiro, mas a análise ao jogo revela um cenário bem diferente: Portugal chegou ao intervalo empatado, marcou o primeiro golo aos 63 minutos, pelo recém-entrado Varela, e só descansou nos últimos cinco, quando Postiga, aos 85, e Bruno Alves, aos 88, fixaram o resultado final.
Apesar das exibições pouco convincentes, Portugal chegou com um percurso 100 por cento vitorioso a Moscovo para defrontar a Rússia, considerada a principal adversária na luta pela vitória no grupo. A derrota por 1-0, consumada com o tento de Alexander Kerzhakov aos seis minutos, puniu mais uma exibição sem chama e colocou a congénere russa na “pole position”, até porque naquela altura já se tinha imposto em Israel e em casa à Irlanda do Norte.
A Rússia ficou em posição ainda mais privilegiada quatro dias mais tarde, quando venceu o Azerbaijão e beneficiou do empate 1-1 concedido por Portugal na receção aos norte-irlandeses, em mais um encontro em que se viu na necessidade de recuperar de uma situação de desvantagem, só conseguindo responder aos 79 minutos, por intermédio de Postiga, ao golo de Niall McGinn, aos 30.
Do particular no Gabão (2-2), no último encontro de 2012, “salvaram-se” os golos de Pizzi, que tal como Nélson Oliveira marcou o primeiro golo internacional na estreia a titular, e Hugo Almeida, e a entrada em 2013 foi ainda mais desastrada, com uma derrota por 3-2 na receção ao Equador, de pouco valendo os golos de Hélder Postiga e Cristiano Ronaldo.
Mais dramático foi o empate 3-3 em Israel, que até poderá revelar-se precioso na decisão do segundo lugar da “poule”, conquistado graças a um golo marcado aos 90+3 minutos “a meias” entre Fábio Coentrão e o israelita Yuval Shpunginm, que atirou a bola contra as pernas do defesa do Real Madrid e a encaminho para o fundo da baliza.
Num jogo com muitas peripécias, a formação lusa entrou a ganhar, com um tento de Bruno Alves logo aos dois minutos, mas os anfitriões viraram o resultado por intermédio de Tomer Hemed (24), Eden Bem Basat (40) e Null Gershon (70), antes de Hélder Postiga reduzir (72) e devolver aos portugueses a esperança que Fábio Coentrão conseguiu agarrar.
Além dos pontos perdidos perante um inesperado adversário direto, Portugal ficou também privado de Cristiano Ronaldo para o confronto seguinte, no Azerbaijão, depois de o jogador mais influente da equipa lusa ter visto o segundo cartão amarelo na fase de qualificação, falhando o primeiro jogo oficial sob o comando técnico de Paulo Bento.
Mesmo sem Ronaldo, Portugal conseguiu minimizar os danos e sair de Baku com um triunfo fundamental, mas que apenas começou a ser construído na segunda parte, quando o defesa Bruno Alves inaugurou o marcador, aos 63 minutos, antes de Hugo Almeida descansar os adeptos lusos aos 79, ao fixar o 2-0 final.
Portugal reencontrou-se com os sucessos depois de cinco jogos consecutivos sem vencer, uma série que não se repetia há quase sete anos, altura em que também esteve cinco partidas seguidas a “marcar passo”, entre a fase final do Campeonato do Mundo de 2006, realizado na Alemanha, e o início do apuramento para o Europeu de 2008.
O golo de Postiga no recente confronto com a Rússia manteve Portugal na senda dos triunfos, permitindo-lhe recuperar alguma margem de manobra no braço-de-ferro com Israel na corrida à fase final do Mundial de 2014, que se vai realizar no Brasil, e ao avançado igualar o lendário Rui Costa como o sexto jogador mais goleador com a camisola das quinas, com 26 remates certeiros.
Portugal terminou a época como começou, conquistando o terceiro triunfo consecutivo, num particular com a Croácia pouco memorável, mas que serviu para Ronaldo, que já não marcava desde o jogo como Equador, concretizar o 39.º golo internacional, destacando-se como o terceiro melhor marcador da equipa lusa, a apenas dois remates certeiros do lendário Eusébio e a oito do líder Pauleta.